domingo, 26 de dezembro de 2010

tOdO FiNaL dE aNo é A mEsMa CoiSa?

Todo final de ano é a mesma coisa, afinal de contas os ritos acontecem a partir das repetições... Todo final de ano ocorre a invasão do sentimento consumista, acho que as luzinhas de natal encantam tanto que fica muito difícil dizer não. Quando vejo, estou pensando em um presentinho para fulano, sicricano, bertano. Parece obrigação, mas no fundo da prazer... muito prazer... Todo final de ano aquela correria na cozinha, a cansativa preparação daqueles pratos calóricos, cheio de cheiro, cores e sabores... Todo final de ano acontece a reflexão, a construção de projetos para o novo ano... Dos ritos de final de ano, o do reveillon tem feito muito mais sentido para mim, pois estou bem afastada do cristianismo, que é imposto “goela abaixo” para todos. Sobre cristianismo, melhor parar por aqui, quero mesmo é refletir sobre reveillon e as esperanças que este rito nos traz... As vezes penso como seria a vida se o calendário fosse contínuo, ou se o calendário não existisse... Será que contaríamos o tempo? Ou não contaríamos? Talvez seguríamos dia a após dia e não teríamos nem a chance de renovar as esperanças. A vida seguiria contínua e em linha reta. Retilínea, muito retilínea... Acho que seria estranho. Mesmo assim, a terra continuaria girando em torno do sol, girando sem contas, sem números... seria estranho, mas também poderia ser bom. Voltando a realidade, ao tempo contabilizado em números que são expressos em calendários. Por isso o novo calendário traz uma sensação de algo novo. Do particular inserido no geral. Daqui alguns dias, veremos em nossas agendas o n. 2011. E se de 2010 vamos para 2011, é uma chance de re-iniciarmos, mesmo que seja um fragmentozinho de nossa vida. Um ano é um fragmento de uma vida que pode durar muitos anos. Creio que se fizessêmos uma pesquisa empírica, veríamos que 90% das pessoas renovam as esperanças para o ano que se inicia. Isso é parte do rito. O rito acontece por meio da repetição e traz muitos significados. Significados positivos, ora bolas! Quem sabe ano que vem consigo um emprego melhor? Quem sabe ano que vem começo estudar? Quem sabe ano que vem faço uma viagem legal? Quem sabe encontro um amor? Quem sabe tenho filho? Acredito que quase ninguém fica pensando: Quem sabe eu fico doente? Quem sabe eu sofra um acidente? Quem sabe eu perca o emprego? Seria burrice tanto pessimismo... Agora eu penso: e o otimismo, será que faz tanto sentido? Sentindo, sentido, acho que não tem não... mas vejo que é bom. Melhor ser otimista e se agarrar na pseudo-oportunidade que a virada do calendário nos dá para renovarmos as esperanças... Mas esta renovação acompanha um gelinho na barriga... Há sempre o “quem sabe”, pois ninguém tem certeza de nada... a vida é incerta, isso sim é certo! Mesmo assim, como todas as pessoas, todo final de ano estou renovando as esperanças... E, o mais importante de tudo, é que nesta virada de ano tenho muito mais otimismo que nunca. Acredito que 2011 será o ano da minha vida. Em 2011 realizarei alguns sonhos especiais. Todo final de ano é a mesma coisa... Todo final de ano é a mesma coisa, estou eu aqui escrevendo irrelevâncias neste blog. Mas na minha história há algo diferente, passarei o reveillon ao lado do meu amor, eis um desejo feito no réveillon do ano passado... Esperança renovada, desejo realizado, coisa boa temos que compartilhar! No final das contas, todo final de ano é a mesma coisa, mas desta vez é diferente, acho que tudo se repete, mas com novas expressões. Os ritos se repetem, mas a vida não...tOdO FiNaL dE aNo é A mEsMa CoiSa? Que venha 2011 com muita renovação para todos nós...

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

um pouco da pesquisa de campo

... quero escrever um pouquinho aqui sobre o início das vivências concretas da pesquisa que estou desenvolvendo... Em pleno início de dezembro desenvolvi a pesquisa de campo inicial. Estive nos locais que os adolescentes estão apreendidos... Fiz pesquisa documental. Primeira experiência de estudar documentos! E posso dizer sem receio: gostei! Tinha muito preconceito com isso, mas foi bem interessante ver a materialização de questões que me preocupam em documentos. Os documentos despertam entrelinhas. Os documentos mostram caminhos. A viagem foi tranquila, mas peguei chuva na estrada. Não encontrei nenhum plantão policial. Fui por outros caminhos e deu para entender um pouco mais das rotas existentes no Paraná. Em Toledo, uma cidadezinha bonita, levantei algumas situações de meninos e meninas exploradas pelo tráfico. Em Foz do Iguaçu a coisa é realmente complexa. Lá há muitos casos e fiquei supreendida com a realidade. Confesso que esperava menos, e ao ler os documentos, vi que questão que estou estudando é fenomeno muito mais complexo do que imaginava. Em Cascavel, novas situações... Em Londrina, surpresa: quase nenhuma situação de apreensão de adolescentes por estarem transportando entorpecentes. No mais, estou sistematizando os dados e, é claro, que não apresentarei aqui, pois trata-se de uma tesa científica... não é assunto secundário para ser exposto aqui no blog. O que posso dizer é que fiquei muito preocupada com a situação de meninos e meninas que são explorados pelo tráfico de drogas. Meninos e meninas que estão em situação de risco extrema. Meninos e meninas que são vistos pelo sistema de justiça como traficantes. Meninos e meninas que são meninos e meninas com uma particularidade: possuem a coragem de arriscar. Foi essa a impressão que tive ao ler os documentos. Me pareceu que os meninos e meninas estão o tempo todo cientes de que a qualquer momento poderão ser apreendidos e,por por conseguinte, perderem as cargas de seus "patrões"... Meninos e meninas, que mesmo com coragem, sabem que correm risco sempre. Ao ler os documentos tive sensações fortes... Senti o medo deles e delas. Bom, isso pode ser exagero de minha parte, mas senti. Senti, talvez um pouco do que seria a sensação de ser adolescente e de carregar muito mais que uma mala cheia de drogas, carregar o peso do mundo nas costas.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

o mundo gira...

Há exatamente um ano eu estava assinando o financiamento do apartamento. Cheia de dores, medos, angustias. Não acreditava que o sofrimento passaria. Parecia que iria carregar aquele peso pro resto da vida. Me sentia fracassada. Me sentia autonoma demais, e isso doia. Doia muito. Li algumas postagens do blog de dezembro de 2009 e vi como estava maluca. E como é bom olhar para trás, como se usasse um binóculo, e perceber que o mundo gira. No ano passado estava maluca nesta época do ano e mesmo assim, assinava o financiamento de um apartamento. Hoje, estou decidindo a viagem de férias com meu amor. Do amor que procurei a vida inteira. Do homem que é homem em minha vida. Do homem que me faz bem. Tenho acreditado cada dia mais. E o apartamento financiado de um ano atrás, que trazia tanta angustia, é palco de uma vivência maravilhosa com uma pessoa linda. O mundo gira e como gira... Não me sinto mais sozinha. Não me sinto mais autonoma de mais. Tenho bem menos medo. Confio muito mais. Acredito no amor. E o mundo gira... gira... gira... e continuará girando!

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

pessoas-formiguinha e rios-no-mar

... inspiração não faltou, o que faltou foi tempo. Faltou também concentração, foco, sossêgo. Mas hoje, ao ver de cima... ver do alto, as nuvens como pequenos maços de algodão, acima da cidade pequeninha, das pessoas-formiguinha, dos carrinhos-briquedo. Dos prédios com piscina azulzinha encima, dos aglomerados de casebres cinzas subindo os morros... "De Porto Algre ao Acre, a pobreza só muda o sotaque", assim canta Ney Matogrosso... Ao ver as cidades de forma mais atenciosa impossível não pensar em quem esta lá embaixo... nas pessoas-formiguinha, que ficam do mesmo tamanho quando olhoadas de cima. Ficam todas minusculas e vão sumindo, sumindo, sumindo. A existência é vista. Vista como deve ser. Vista como insignifcante. Melhor dizendo, vista com a vulnerabilidade que lhe cabe. Sabem aquele ditado que somos "grãos de areia"? Foi disso que lembrei. Lembrei que somos todos grãos-de-areia, somos todos pessoas-formiguinha, pequenos a ponto de uma simples pisada nos detonar. Simples pesada é ironia minha, pois uma pisada para formiguinha não é nada pouco. E as pisadas que nós, pessoas-formiguinha, levamos num cotidiano formado por valores egoístas, valores cegos, que não são escolhas, mas sim determinações sociais. É bom poder pensar sobre isso sem estar em crise existencial, sem ter levado uma pisada daquelas. Os sentimentos contrários também estão me fazendo pensar. Hoje, ao olhar de cima, depois de tantas emoções que tenho passado nos ultimos tempos, tive um sentimento profundo, meio incondicional, meio difuso, sobre minha existência e a existência de todas as pessoas...Sim, foi algo meio estranho...meio diferente... Além disso, vi de cima as correntes marítimas... Sim, elas correm como rios sobre o mar. As correntes são visíveis como rios no mar. Pessoas-formiguinha e rios-no-mar.. quanta loucura, talvez besteiras... mas, ao sintetizar, o sentimento naquele momento foi de que a existência é ínfima e o rio corre... o rio continua correndo... o rio corre, mesmo quando está em alto mar. Só mais um pouco de elucubrações!

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Queria escrever

Queria escrever. Escrever sobre política. Escrever sobre eleição 2010. Escrever sobre voto nulo. Escrever sobre a primavera. Escrever sobre o sol brilhando e o vento no rosto. Escrever sobre o dia dos professores. Escrever sobre minha fobia de elevadores. Escrever sobre las clases del español. Escrever sobre a ditadura da balança. Escrever sobre a pseudo liberdade repleta de correntes. Escrever sobre a vida. Escrever sobre o compartilhar do cotidiano. Escrever sobre o amor. Escrever sobre 2011. Escrever sobre todos esses temas que vieram a cabeça. Escrever sobre todas as associações que faço entre eles. Mas, hoje, exatamente hoje, só posso escrever que queria escrever. Só isso... Quero escrever.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

TPM + saudade = tristeza

... parece que a tristeza incerta de ontem decorria um pouco da saudade da pessoa amada. TPM + saudade = tristeza...
Tristeza incerta, tristeza certa.
O meu "par-perfeito" me ligou, fiquei bem mais leve. Dormi leve. Acordei leve. Acho que a tristeza saiu da sala. Espero que demore para bater a porta novamente.
É maravilhoso amar e se sentir amada.

domingo, 19 de setembro de 2010

tristeza incerta

... triste, hoje estou triste. Sinto uma tristeza incerta. Uma tristeza que me visita em momento que a sala está colorida, sem lugar para visitas indesejadas. Mesmo assim, essa intrometida chega, senta e coloca os pés na mesa de centro. Chega folgada e ocupa espaços. Ela é incerta, mas acha que é certa. E eu, mesmo não desejando, recebi sua visita. Fui educada. Deveria ter deixado a porta fechada. Será que foi a TPM que me fez abrir a porta quando a campainha tocou? Mas, venhamos e convenhamos, será que posso jogar a culpa na TPM? Talvez não... Acho (acho!) que a culpa é só minha. A culpa é da minha mente, que as vezes se confunde. Se perde. Ou será que a culpa é da minha alma que quer voar mas ainda espera o vento plenamente favorável? Sinceramente não sei de onde vem essa angustia que aperta fortemente meu peito. Essa tristeza incerta que, além de tudo, é invasiva. Não tenho motivos para deixá-la entrar. Não tenho motivos. Não tenho motivos. A prática da yôga nunca fez tanta falta. A fé nunca fez tanta falta. A alienação nunca fez tanta falta. Mas, prefirirei dentre tantas possibilidades de culpados, jogar a culpa na TPM, pois a coisa boa da TPM é que ela passa. A TPM passa e a tristeza incerta vai com ela. Vá tristeza incerta. Saia da minha sala.

ainda bem que encontrei o meu par perfeito e ele me oferece chocolate em dias de TPM...

terça-feira, 14 de setembro de 2010

...o amor pode dar certo, por isso vejo cores!

... é estranho! Tenho coisas boas, novas, belas e coloridas para contar, mas, infelizmente, não parei para isso. Quando o que eu tinha era dor, a inspiração dolorida me acompanhava. Parava neste blog e falava da dor que sentia. Hoje vivo uma bela história. Vivo momentos intensos, as vezes inacreditáveis, por isso, devo, pelo menos, ter coragem de escrever aqui: o amor pode dar certo! E desde abril deste ano, comecei visualizar isso. Inicialmente pensava que tudo não passava de ilusão. Depois de tantos desencontros, decepções e ressentimentos, era díficil acreditar que o amor poderia (pode) dar certo. A desesperança era um sentimento constante. É possível vê-la em vários textos presentes neste blog. A desesperança é um sentimento que tira as cores da vida. Na verdade, penso que no íntimo de minha alma, nunca deixei a esperança morrer, todavia, racionalmente o que imperava era a desesperança. Mas, desde que comecei visualizar possibilidades de viver um amor verdadeiro, a desesperança, concretamente, se transformou em esperança. As dúvidas do início de um relacionamento, especialmente o medo de amar e não ser amada, quase sufocaram as possibilidades... Mas, neste processo fui acreditando que poderia viver algo real. E hoje, tenho convicção de que as cores estão presentes. Amo. Sinto-me amada. E quero repetir para o mundo e para mim mesma: o amor dá certo! Dá certo quando é para acontecer. Dá certo quando há afinidades. Dá certo quando há disposição. Vejo cores. Vejo cores até no cinza de São Paulo. Vejo cores. Vejo cores. Vejo cores. Sim, amando vejo cores!O amor pode dar certo, por isso vejo cores!



Postei a música abaixo, pois ao ouvi-lá, senti uma profunda emoção e fiquei grata. Agradeço muito a energia que move o mundo. Pois,


Entre as coisas mais lindas que eu conheci
Só reconheci suas cores belas quando eu te vi
Entre as coisas bem-vindas que já recebi
Eu reconheci minhas cores nela então eu me vi

Está em cima com o céu e o luar
Hora dos dias, semanas, meses, anos, décadas
E séculos, milênios que vão passar
Água-marinha põe estrelas no mar
Praias, baías, braços, cabos, mares, golfos
E penínsulas e oceanos que não vão secar

E as coisas lindas são mais lindas
Quando você está
Onde você está
Hoje você está
Nas coisas tão mais lindas
Porque você está
Onde você está
Hoje você está
Nas coisas tão mais lindas


(As coisas tão mais lindas - Nando Reis)

... quando se ama, as cores têm mais cores...

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Voa Guerreiro Menino

Guerreiro urbano.
Guerreiro negro.
Guerreiro trabalhador.
Guerreiro sonhador.
Guerreiro que guerreia desde o ABC
Do ABC, b-a-bá
Do ABC, lugar de morar
Menino que virou guerreiro bem cedo
Guerreiro que continua menino
Menino que vive como se o Piauí fosse aqui
Guerreiro que vive como se Mauá fosse lá
Sente a densidade da vida,
da vida no Piauí, da vida aqui, da vida ali
da vida nos altos e baixos das periferias daqui
das histórias reais de Mauá, de cá, de acolá
Sente o cansaço das distâncias
Sente o peso de ser guerreiro num mundo que não quer guerreiros
Num mundo que diz não.
Num mundo que diz: você aí, aceite o que lhe vem sem guerrerar
Mas o Guerreiro, é teimoso,
O Menino é sonhador
Guerreiro Menino teimoso e sonhador
Quis virar contador de história
Quis ser 'ensinador' de história
Pois sempre se viu como construtor da história
E, na história principal, o que fica
É que o Guerreiro é menino
E o Menino é guerreiro.
Voe, voa
Guerreiro Menino
Voe, voa
Menino Guerreiro
Voe,voa
Voa e transfere leveza.
Voa e contagia.
Voa e fortalece.
Voa porque gosta de voar...

(Dréa Rocha)

sábado, 31 de julho de 2010

tempo e vento: reflexões de aniversário

Criei um rito. Há alguns anos (acho que já se passaram oito), criei o rito de escrever um texto reflexivo sobre o período que antecede meu aniversário. Para mim, o aniversário é o réveillon, por isso, sempre desejo para as pessoas “feliz ano novo”... Então, aniversário é tempo de fazer um balanço do ano, é tempo de refletir e construir novas metas. Este ano, pensei em não fazer isso... Acho que todos os anos penso em desistir disso, mas quando sento e começo realmente a fazer o tal balanço, tenho vontade de escrever, de compartilhar. Neste texto devo exaltar a importância da saúde. No aniversário do ano passado estava me recuperando de um problema sério de saúde no corpo que decorreu de um problema de saúde da alma. O ano virou em 02/08/2009 e em novembro já estava totalmente curada do problema no corpo, todavia o problema na alma ainda existia... levou mais tempo... e quando o réveillon oficial aconteceu, resolvi iniciar 2010 com toda força e pronta para me livrar também do problema na alma. E foi assim... em 2010 me livrei... Me senti livre... e o fato de sentir-se livre possibilita que o vento entre pela janela. Ao sentir-me livre, senti o vento. E o vento me trouxe um presente extraordinário. Ao sentir-me livre e sentir o vento, pude valorizar o tempo. Ver como o tempo é importante... Dar ao tempo a responsabilidade que lhe cabe. Deixar o mundo girar. Perceber o tempo e fazer como Fernando Pessoa poetiza: “Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos”... Permiti-me isso... abandonei roupas usadas e passei a enxergar a travessia. Ao enxergar a travessia, nada mais poderia fazer além de atravessar... Atravessar é caminhar. Atravessei, sai da margem de mim mesma. Da margem que me coloquei e que feriu minha alma. Sai da margem de mim mesma, sai do tempo de standby (essa percepção do standby não foi minha, foi da pessoa que compartilha o vento comigo... sim, hoje tenho alguém que compartilha o vento, o sol, a lua, enfim, as coisas da vida comigo...)... O vento, o tempo, a travessia... é isso que vejo no ano que finda e traz motivação para o ano que se inicia. O ano que iniciará dia 02/08/2010 terá muitas novidades... Poderei viver emoções intensas, inclusive aquelas decorrentes do amor que faz bem. Sim, estou aprendendo que o amor faz bem. Que o amor compartilhado é ótimo de viver. Confesso que isso dá um pouco de medo. Medo de acabar, medo de virar dor, por isso faço a oração todos os dias: que permaneça lindo por muito, muito, muito tempo e que eu saiba aproveitar cada momento... Viverei também emoções profissionais, afinal de contas, no dia do réveillon iniciará a licença para o doutorado e disso muita coisa vem... A possibilidade do desenvolvimento da pesquisa com seriedade, com compromisso político e, quem sabe, uma experiência em alguma terra longínqua. É isso que espero para o meu novo ano: saúde, tempo, vento, travessia, caminhada, amor que faz bem... Que o ano que se inicia mantenha esses elementos e muito mais... Que eu saiba entender a importância do tempo e que a janela esteja aberta para o vento, sempre... sempre... sempre...

quinta-feira, 10 de junho de 2010

... simples reflexões sobre a luta em defesa da Universidade Pública...

Hoje é o meu aspecto político que grita mais alto. Que bom. Que a política se torne inspiração e que eu possa mergulhar a fundo nesta maré inspiradora. Dependendo da conjuntura, quase impossível não falar de política. Dependendo da conjuntura, díficil falar de política. Do que estou falando? Ano de eleição e de copa do mundo é o tudo e o nada. Mas vou direto ao ponto: a importância da luta. Especificamente, tratarei aqui da luta em defesa da universidade pública. Na terça-feira (08/06/2010), sai da reunião sindical super preocupada, pois acabávamos de ter a notícia de que, no apagar das luzer, o reitor em exercício da UEL, possibilitou uma correria para empurrar a questão do ensino à distância também para graduação. Mais que isso, o PPI - Plano Pedagógico Instituicional, sofreu mudanças sérias e mostra, em suas entrelinhas, todos os principios da privatização da universidade pública. Reproduz de forma nua e crua os ditames do Banco Mundial. Votaram este documento de forma anti-democrática, coisa que tentaremos denunciar para a comunidade universitária e, quem sabe, rever. Hoje a nova reitora da UEL assumirá. Assumirá com uma batalha burocrática "ganha". Ganha no tapetão, mas ganha. Poderão dizer: foi a reitoria anterior que aprovou isso, só estamos implementando. Horrível isso. Mas não poderemos ficar calados. Temos que lutar e mostrar para a comunidade que o ensino à distância para a graduação é o fim da universidade pública. A luta pedirá persistência, pois muitos de nossos pares acreditam no "conto do EAD", outros estão inerte ao debate. Enfim, teremos que lutar por algo além da questão salarial. O movimento docente, deve, independente de tudo, lutar pela universidade pública.
Neste sentido, vale a pena relatar que ontem, quarta-feira (09/06/2010), vivi uma experiência interessante. Depois de um semestre de aulas com o Prof. Franciso de Oliveira, discutindo a mundialização do capital, a globalização e o neoliberalismo, pudemos fechar o curso em uma aula na ocupação da reitoria da USP. Uma ocupação de funcionários. Uma ocupação daqueles que mantém a estrutura da USP funcionando. Daqueles que cuidam dos jardins, da limpeza, das luzes, que apertam os botões. Que pegam o trem lotado nas periferias de São Paulo e vão trabalhar num espaço que seus filhos e netos não têm lugar. Por isso, entrar na ocupação trouxe-me uma emoção diferente. Uma ocupação de funcionários, decorrente de uma greve que os Docentes e os Estudantes na aderiram. Isso mexeu bastante comigo. Além destas sensações do tempo presente, entrar na ocupção me trouxe lembranças daquela energia estudantil que me movia. Das ocupações na reitoria da UNESP. Da garra, da coragem, da indgnação, sensações que temos nos melhores anos da vida. Sensações que são amadurecidas, ampliadas ou modificadas com o tempo. Entrei lá, com todo o respeito. Entrar lá, acompanhada do Prof. Chico de Oliveira, que é ainda um ícone da "esquerda" brasileira, foi emocionante. A aula do Chico foi linda... Alguns funcionários da USP participaram, alguns fizeram questionamentos interessantíssimos. Foi um momento único. Um momento que não se vive todo dia... Um momento que traz uma certa esperança, apesar da angústia do refluxo. Do refluxo dos movimentos, da manipulação, do aparelhamento, do ataque, da aparente morte da luta. Neste aspecto, podemos dizer: a luta está morta - a luta está viva. A luta está. É isso: a luta está! A luta não foi ou será. A luta está presente. A luta está pronta para mostrar-se. A luta está as vezes quietinha dormindo, outras vezes, está gritando acordada... E quem controla a luta? Quem a silencia ou a acorda? Os homens. Os homens controlam a luta. Os homens dão vida ou morte à luta. Temos que nos movimentar, pois a luta é instrumento e lutar é fazer história.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

ditadura do "viva o momento" e convite à mulher-esqueleto

... acabo de fazer uma caminhada matinal em uma manhã bem fria. Mesmo assim, caminhar é maravilhoso, é bom para colocar as idéias no lugar, é bom para perder calorias. O final de semana (que acabou ontem) exige de mim as duas ações: colocar as idéias no lugar e queimar calorias. Sobre a necessidade de queimar calorias, isso é bem fácil falar... Comi muito carboidrato, muito... e estou com um peso na consciência, que também pode vir para balança. Antes que o peso apareça na balança, terei que caminhar e reduzir danos drasticamente... (é, acho que estou realmente me rendendo a ditadura da balança. Isso é péssimo...) Bom, tenho que gastar as calorias consumidas e pronto. Sobre a necessidade de colocar as idéias no lugar, isso sim, é um pouquinho mais complicado. Complicado porque? Complicado pois tenho medo. Medo de tirar conclusões precipitadas. Medo de acreditar em algo que não existe. Medo de não acreditar em algo que existe. Loucura? Coloquem loucura nisso. Acho que já acreditei mais nas coisas boas. Agora sou cética... Cética com relação as coisas boas, em especial, as coisas boas que acontecem comigo. Aqui posso introduzir outra ditadura (como a da balança), falo da ditadura pós-moderna: viva o momento! Isso também é uma ditadura. Viver o momento com toda intensidade é maravilhoso, especialmente, quando se trata de "coisas boas". Mas viver o momento, pelo momento, é para mim algo angustiante. Porque sou obrigada a olhar apenas para o momento presente, para o hoje, para o agora, para o minuto? Porque não é possível pensar em futuro? Tocar em assunto de futuro então, isso é proibidíssimo, algo digno de penalidade. Talvez de penalidade máxima, como o cartão vermelho (pegando a onda da copa!). Sim... Sim... Sim... não é exagero. O fantasma do "viva o momento" é eminente, mesmo quando não se toca neste assunto. E o fato de não se tocar neste assunto, é justamente decorrência da ditadura pós-moderna do "viver o momento". É... fiquei pensando nisso durante a caminhada. E, meus pensamentos foram mais loge ainda. Porque eu cedo tão facilmente a esta ditadura? Será que posso somente culpabilizar vivências, erros e decepções vividas no passado? Não. Eu também tenho medo de tocar no assunto de futuro, por ter medo do futuro. Tenho medo de cobrar. Por ter medo de ser cobrada. Tenho medo de tentar colocar algum pingo em algum i, e ter que pagar com outros pingos em i's. Agora, é certo que o medo maior é de tentar pensar em futuro, com medo de não haver futuro. E aí a ditadura do "viva o momento", se torna realidade nua e crua, pois melhor aproveitar o momento, que ter medo do futuro. Li duas frases no romance existencialista do Sartre, e algo ma chamou bastante atenção, pois ele fala que a aventura só existe por conta de sua morte. Complicado explicar, mas ele diz que uma aventura, só é aventura, se morrer. Algo que continua existindo, não pode ser chamada de aventura, pois a morte é vinculada a aventura. Só há aventura se houver morte (será que é isso mesmo que ele fala? Bom, foi o que interpretei)... Este pensamento está totalmente correto, pois quando falamos de aventura, falamos de algo que rompe com a rotina, com os protocolos, com o trivial, com o corriqueiro. E a aventura só pode ser chamada de aventura por ter início e ter fim. Fugaz. A aventura é fugaz. Quero viver aventuras. Mas chega um ponto que as aventuras não satisfazem a alma. Viver aventura é bom. Viver aventura é curtir o momento. Mas será que isso basta? É... estou feliz por ter vivido coisas boas, mas também, querendo entender se as coisas boas só se tratam de aventura. Será que tenho que me contentar com a ditadura pós-moderna do "viver o momento" e ficar muito satisfeita com isso, ou será que poderei pensar em algo além do momento? A coisa não é fácil. E tenho que entender bem qual a parte que me cabe neste latifundio... Ontem fui reler um capítulo do livro "Mulheres que Correm com os Lobos", a história da mulher-esqueleto, e lá a autora diz:

"A incapacidade de encarar a Mulher-esqueleto e de desenredá-la é o que provoca o fracasso de muitos relacionamentos de amor. Para amar é preciso não só ser forte, mas também sábio. A força vem do espírito. A sabedoria, da Mulher-esqueleto.
Como vemos na história, se quisermos ser alimentados por toda a vida, precisaremos encarar e desenvolver um relacionamento com a natureza da vida-morte-vida. Quando temos esse tipo de relacionamento, não saímos mais por aí à caça de fantasias, mas nos tornamos conhecedores das mortes necessárias e nascimentos surpreendentes que criam o verdadeiro relacionamento. Quando encaramos a Mulher-esqueleto, aprendemos que a paixão não é alguma coisa que se vai "obter" mas, sim, algo gerado em ciclos e distribuído. É a Mulher-esqueleto que demonstra que uma vida compartilhada, nos fluxos e refluxos, em todos os finais e reinícios, é o que cria um inigualável amor de devoção.
Essa história é uma imagem adequada para o problema do amor moderno, o medo da natureza da vida-morte-vida, em especial do aspecto morte. Em grande parte da cultura ocidental, o personagem original da natureza da morte foi encoberto por vários dogmas e doutrinas até o ponto em que se separou de vez da sua outra metade, a vida. Fomos ensinados, equivocadamente, a aceitar a forma mutilada de um dos aspectos mais básicos e profundos da natureza selvagem. Aprendemos que a morte é sempre acompanhada de mais morte. Isso simplesmente não é verdade. A morte está sempre no processo de incubar uma vida nova, mesmo quando nossa existência foi retalhada até os ossos." (ESTÉS, 171 - 172)

Ao ler isso, pensei: eu tenho medo da morte. Tenho medo de iniciar algo que poderá precocemente morrer... Agora, refletindo mais profundo, vejo que é justamente o medo da morte que faz com que eu me submeta à ditadura do "viva o momento"... Que confusão! Mas, a mulher-esqueleto ensina que a morte é dialética. A morte traz vida e a vida traz morte, uma movimentando a outra. Pensar em morte não quer dizer pensar no fim. Pensar em morte, quer dizer: renovação.
Quero construir coragem para enfrentar a ditadura do "viva o momento" e para dizer "seja bem vinda mulher-esqueleto"...
É isso... Mais um pouco de elucubrações públicas.

domingo, 30 de maio de 2010

copa de 2010, também mudei!

sobre a postagem abaixo!!!!

hoje estava conversando com uma amiga sobre as copas do mundo e minhas mudanças e ela me disse: este ano você também mudou! Lembrei-me que há 3 meses apenas, mudei de apartamento... que loucura... ano de copa, ano de mudança...
Espero que os elementos subjetivos que caminham com a mudança também se mostrem em breve!!!!
Enfim: na compa de 2010, também mudei!!!! Maravilha!

quinta-feira, 27 de maio de 2010

minha vida nos outonos que antecedem as copas do mundo: 1998, 2002, 2006, 2010!

... o que mais tem se falado no outono de 2010 é sobre a Copa do Mundo (em especial, sobre as ecolhas do Dunga determinadas pela Nike).. Hoje fiquei pensando, como eu estava em outubro de 2006, 2002 e 1998... E a reflexão foi bem legal. Lembrei que nos ultimos doze anos (o que não é pouco!) muitas coisas aconteceram. No outono de 1998 estava tentando a vida no Rio de Janeiro, mais especificamente, em Niterói. Tentei viver lá, morava com lindas africanas, meninas de Cabo Verde. A casa era em uma vilazinha, onde os adolescentes pintaram a rua de verde e amarelo. Colocaram bandeirinhas, ficou tudo tão lindo... Tão alegre. E eu estava naquele lugar cheia de sonhos e também de frustrações, pois meus planos não deram certo. Mas pude viver. Pude viver novas emoções. Conhecer novas pessoas. Hoje penso em ir atrás daquelas meninas. O que será que elas tem feito da vida?! Onde estão? Será que voltaram para Cabo Verde? Algumas pessoas passam por nossas vidas e nem me damos conta que elas mudaram nossa história, todavia, apenas em uma passagem. Fiz amigos... assisti os jogos com eles! Já no outono de 2002, estava eu, mudando para o Paraná. Cheia de dor por deixar a FEBEM/SP e iniciar nova vida em outro estado. Conta no vermelho, mas cheia de esperança. Mas também estava cheia de tristeza por ter deixado aqueles meninos para trás. O fato de ter ido cuidar da minha vida pesava. Pesava bastante. Fiz amigos... assisti jogos da copa com eles! No outono de 2006, estava vivendo nova fase, morando em Londrina... muito feliz com a mudança. Fazendo novos amigos, novos paqueras.. enfim.. novidades, sempre copa do mundo é tempo de novidade! E este ano... outono de 2010? Sim... tem coisas acontecendo, mas não sou a mesma menina de doze anos atrás. Não ser mais aquela menina tem pesado. É pesado ser adulta. É pesado ter consciência. É pesado ter razão. Doze anos se passaram, muita coisa passou, mas ainda me sinto sozinha. Me sinto perdida. Sou adulta, mas me sinto como a menina de doze anos atrás... estou insegura. É isso... Sorte no jogo (profissão), azar no amor, eis a minha sina... E que venham os jogos da copa de 2010...pelo menos a alegria africana irá me contagiar. Isso é certo!

terça-feira, 25 de maio de 2010

o amor é guloso

...é, como poetiza João Cabral de Melo Neto, o amor comeu...o amor é guloso...
"O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.". Como amor comeu... E, o pior de tudo é que o amor comeu novos amores. O amor comeu novos amores. O amor comeu novos amores. Isso João Cabral de Melo Neto não falou, mas eu sinto: o amor comeu novos amores. O amor comeu a vontade de amar. O amor comeu a auto-estima. O amor comeu a fé. O amor comeu a esperança. O amor se fartou de tudo isso e quando olho para frente vejo: não restou quase nada. O amor comeu tudo. O amor deixou vazio. O amor deixou um vazio tão grande e, mesmo assim, continua comendo... Mas, quem sabe após o vazio, o amor passe a comer o que sobra. Comer o medo. Comer a angustia. Comer a ansiedade. Comer o ceticismo. Comer a descrença. Comer a dor que ele mesmo deixou. O amor gosta de comer. O amor não pode ser tão egoísta assim. Essa voraciadade por comer, comer, comer, deve ter uma razão de ser. E, quem sabe um dia, o amor possa matar sua fome e passe a alimentar. Quem sabe um dia, o amor farto possa compartilhar. Sim! Sim! Sim! O amor é guloso, ele come tudo para experimentar. Ele come tudo para se manter vivo. Ele come tudo para revolucionar. Ele come tudo para movimentar. Ele come tudo para renovar. E, se para Cabral de Melo Neto, o amor "...comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.". O amor depois de comer, comer, comer, trouxe equilibrio e,principalmente, levou embora o medo da morte. Acho que eu tenho razão. O amor é um guloso, curioso, irresponsável, mas gosta de estar bem alimentado para revolucionar, movimentar, renovar. O amor pode comer, comer, se fartar, ficar forte e compartilhar. Eta amor guloso!


PS: Uma reflexão bem particular a partir do poema de João Cabral de Melo Neto conhecido como "O amor comeu". abaixo, o trecho de "Os Três Mal-Amados" de João Cabral de Melo Neto


Joaquim:

O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.

O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.

O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.

O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.

Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.

O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.

O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.

O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.

O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.

O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.

O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.


As falas do personagem Joaquim foram extraídas da poesia "Os Três Mal-Amados", constante do livro "João Cabral de Melo Neto - Obras Completas", Editora Nova Aguilar S.A. - Rio de Janeiro, 1994, pág.59.

sábado, 15 de maio de 2010

É importante! É difícil...

É importante! É difícil...
Importante, exclamação! Difícil, reticências...
É importante colocar aqui no blog que estou, finalmente, flutuando (mesmo que de leve, a explicação virá depois) por um novo homem. Além disso, é importante relatar aqui, local onde já trouxe tanta angustia e mágoa, que algo legal tem acontecido. Gente, tem um jovem homem me encantando! Estou muito feliz com isso!
É difícil, pois acreditar de novo traz medo. Mostrar, publicar sentimentos bonitos é estranho depois de tanto desrespeito. Não sei mais se devo me mostrar. Se devo ser eu. Isso dói.
Vamos a importância... É importante dizer: o mundo gira! O mundo gira e a energia que move o mundo possibilita que conheçamos pessoas especiais! Estou vivendo isso. Não sei se durará um mês, se acabará amanhã. Mas é bom..é bom demais sentir encantamento. Sentir vontade. Sentir tesão. Sentir saudade. Sentir desejo de estar junto. Sentir que devo conhecer. Sentir aquela vontade endógena de me intregar.
Vamos a dificuldade... É díficil acreditar. Sim, agora vamos a parte díficil. Depois de tanta aposta em situações que arrancaram parte da minha alma, é díficil acreditar.. acreditar 5% é díficil. Agora sou medrosa. Tenho medo de me mostrar demais. Tenho medo dele ter convicção que mexe comigo e passar a me maltratar. Tenho medo disso, tenho medo daquilo. Nunca vivi isso! Nunca tive medo de uma nova paixão. Mas agora, aos 33 anos isso acontece. É triste. Tenho me controlado, tenho me podado... Tenho medo.. medo... medo... medo de me entregar demais. Medo de levar um fora... Medo de sofrer... Medo de amar e não ser amada... Medos... Medos...
Até então, sentia apenas mágoa, tristeza e, uma leve esperança com relação aquele que nomiei aqui no blog como "Vampiro" e depois como "O Passado"... Acho que era mais cômodo estar rompida com ele e esperá-lo... Mas agora um novo homem surgiu. Não é um simples homem. É um homem que mexe com minhas emoções. É um homem que mexe com minha libido. É um homem que possuí elementos por mim valorizados. Escrevo isso e (quase) não acredito que ainda não tive coragem de dizer isso para ele. Em outros tempos, já teria dito isso e mais um pouco. Mas a dor, as feridas, as cicratizes me fazem trazer tudo para o âmbito da razão e a razão diz: figura, pé no chão. Pé no chão, figura. Será que a razão é minha amiga? Espero que sim, pois tenho me apegado muito mais a ela que aos sentimentos e desejos que invadem minha alma.
Tenho saudade da mulher que falava tudo o que queria, que nunca colocou barreiras para seus sentimentos. Mas também tenho orgulho da mulher de agora. Da mulher, que mesmo diante de tanta dor, não perdeu a esperança e vive apaixonada. Da mulher que quer tentar escrever a história de forma diferente. Da mulher que quer construir um novo padrão. Está mulher tem sofrido um pouco, pois o padrão de antes era bem mais irresponsável. E, a irresponsabiliade é sedutora.
Depois de tantos trancos, quero ser mais resposável com minha alma. Pelo menos isso!
Que a paixão da vez seja correspondida, pelo menos, que seja eterna enquanto dure. E, tomara que ele não leia este post, pois, como a realidade tem me mostrado e me contido, homens que sabem que as mulheres os querem, caem fora. Eu o quero, mas não quero que ele saiba. Isso é importante, mas, ao mesmo tempo, é extremamente díficil. É dolorido. Sera que se ele ler este texto irá se desencatar da minha energia? A realidade me mostra que isso tem imensa chance de acontecer. Vou jogar no acaso. Acho que ele não lê esta porcaria de blog. E eu preciso gritar para o mundo:
Eu o desejo!
Eu estou perdida.

tomara que ele realmente não leia, pois este texto é resultado do vinho seco de sexta-feira...

sábado, 8 de maio de 2010

caminho?

Caminante no hay camino


Todo pasa y todo queda,
pero lo nuestro es pasar,
pasar haciendo caminos,
caminos sobre el mar.

Nunca persequí la gloria,
ni dejar en la memoria
de los hombres mi canción;
yo amo los mundos sutiles,
ingrávidos y gentiles,
como pompas de jabón.

Me gusta verlos pintarse
de sol y grana, volar
bajo el cielo azul, temblar
súbitamente y quebrarse...

Nunca perseguí la gloria.

Caminante, son tus huellas
el camino y nada más;
caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.

Al andar se hace camino
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.

Caminante no hay camino
sino estelas en la mar...

Hace algún tiempo en ese lugar
donde hoy los bosques se visten de espinos
se oyó la voz de un poeta gritar
"Caminante no hay camino,
se hace camino al andar..."

Golpe a golpe, verso a verso...

Murió el poeta lejos del hogar.
Le cubre el polvo de un país vecino.
Al alejarse le vieron llorar.
"Caminante no hay camino,
se hace camino al andar..."

Golpe a golpe, verso a verso...

Cuando el jilguero no puede cantar.
Cuando el poeta es un peregrino,
cuando de nada nos sirve rezar.
"Caminante no hay camino,
se hace camino al andar..."

Golpe a golpe, verso a verso.

(Antonio Machado)

sexta-feira, 30 de abril de 2010

... 1o. de Maio com recado de Brecht!




Só para lembrarmos que amanhã, 1o. de Maio, não é dia de festa:

Melhores ou piores,
é a mesma coisa.
A bota que nos pisa
é sempre a mesma bota.
Já compreendereis
o que quero dizer:
não mudar de senhores,
mas não ter nenhum.

Bertolt Brecht



Em outro poema, Brecht fala para "os que vierem depois"...
Leio, me sinto tão impotente... tão inerte... tão descrente... tão cética... tão parada...
É triste! Estou cuidando da minha vida, é só isso! Primeiro de Maio é dia de reflexão sobre minha atuação política... nos ultimos cinco anos, tenho me sentido culpada... Talvez seja mais fácil considerar o poema abaixo como um recado para as próximas gerações, mas sei que este recado é para mim e eu nada faço.



Aos que vierem depois de nós
Bertolt Brecht
(Tradução de Manuel Bandeira)


Realmente, vivemos muito sombrios!
A inocência é loucura. Uma fronte sem rugas
denota insensibilidade. Aquele que ri
ainda não recebeu a terrível notícia
que está para chegar.

Que tempos são estes, em que
é quase um delito
falar de coisas inocentes.
Pois implica silenciar tantos horrores!
Esse que cruza tranqüilamente a rua
não poderá jamais ser encontrado
pelos amigos que precisam de ajuda?

É certo: ganho o meu pão ainda,
Mas acreditai-me: é pura casualidade.
Nada do que faço justifica
que eu possa comer até fartar-me.
Por enquanto as coisas me correm bem
[(se a sorte me abandonar estou perdido).
E dizem-me: "Bebe, come! Alegra-te, pois tens o quê!"

Mas como posso comer e beber,
se ao faminto arrebato o que como,
se o copo de água falta ao sedento?
E todavia continuo comendo e bebendo.

Também gostaria de ser um sábio.
Os livros antigos nos falam da sabedoria:
é quedar-se afastado das lutas do mundo
e, sem temores,
deixar correr o breve tempo. Mas
evitar a violência,
retribuir o mal com o bem,
não satisfazer os desejos, antes esquecê-los
é o que chamam sabedoria.
E eu não posso fazê-lo. Realmente,
vivemos tempos sombrios.


Para as cidades vim em tempos de desordem,
quando reinava a fome.
Misturei-me aos homens em tempos turbulentos
e indignei-me com eles.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

Comi o meu pão em meio às batalhas.
Deitei-me para dormir entre os assassinos.
Do amor me ocupei descuidadamente
e não tive paciência com a Natureza.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

No meu tempo as ruas conduziam aos atoleiros.
A palavra traiu-me ante o verdugo.
Era muito pouco o que eu podia. Mas os governantes
Se sentiam, sem mim, mais seguros, — espero.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

As forças eram escassas. E a meta
achava-se muito distante.
Pude divisá-la claramente,
ainda quando parecia, para mim, inatingível.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

Vós, que surgireis da maré
em que perecemos,
lembrai-vos também,
quando falardes das nossas fraquezas,
lembrai-vos dos tempos sombrios
de que pudestes escapar.

Íamos, com efeito,
mudando mais freqüentemente de país
do que de sapatos,
através das lutas de classes,
desesperados,
quando havia só injustiça e nenhuma indignação.

E, contudo, sabemos
que também o ódio contra a baixeza
endurece a voz. Ah, os que quisemos
preparar terreno para a bondade
não pudemos ser bons.
Vós, porém, quando chegar o momento
em que o homem seja bom para o homem,
lembrai-vos de nós
com indulgência.

sábado, 24 de abril de 2010

sangue mensal...

Mensalmente as mulheres sangram e isso não é pouco... Sangrar todos os meses é sinal de saúde, fertilidade, feminino. Sangrar todos os meses é sinal de modificações. Modificação hormonal, modificação no humor, modificação no modus-operandi. Sangrar todos os meses é lindo, mas é incomodo. Sangrar traz uma certa dor física-emocional (ou psicofísica). O sangue traz algumas cólicas pesadas (o que faz com que a mulher tenha mais resistência diante da dor) O sangue vem acompanhado da tristeza que o antecede (o que faz com que a mulher esteja em vulnerabilidade emocional). Uma angustia que invade a alma, aquela decorrente de algo chamado cientificamente de tensão pré-menstrual.
O sangue é sangue. Perder sangue, é perder um pouco de força, um pouco de energia, um pouco da alma. Mas a natureza determinou que as fêmeas sangrem como sinal de que podem gerar, que podem ser instrumento para a formação de outro ser da mesma espécie (principalmente entre os mamíferos - e o bicho-humano-mulher esta inserido nesta categoria!). Gerar deve ser lindo, deve trazer o significado deste incomodo mensal. Quando sangro, a tristeza me acompanha, mas também sangrar me traz a convicção da vitalidade. Me traz a sensação de que tudo se renova, de continuidade, de dialética. E o meu corpo está inserido em um ciclo. Um ciclo que é incomodo, mas também é mágico. Que este ciclo continue vivo... Que o sangue mensal seja bem vindo!

sexta-feira, 23 de abril de 2010

cão no lugar de gente?




...odeio FRESCURA com cachoro... odeio o fato de cães serem melhor tratados que pessoas... que crianças. Fico revoltada de verdade... Acabo de ver na Ana Maria "Brega", cães que são tratados com Florais e todas as frescuras que um ser humano merece para ter mais qualidade de vida. É muita desumanização do humano e humanização do cão... Para mim, isso é algo intolerável... É claro que a sociabilidade construida no modo de produção capitalista, é uma das grandes responsáveis por isso. O fato do homem ser desumanizado, reificado, já é elemento explicado por Marx/Engels e toda sua tradição teórica, como um problema a ser superado pelos próprios homens. O fato do cão ser humanizado, nunca vi críticas sobre isso, mas vejo como uma maldade feita com os bichos... é rídiculo, como na foto ao lado!
O individualismo está se aprofundando cada dia mais... e a solidão é um fenômeno que cresce, atingindo grandemente a classe média... E, vejo que as pessoas tentam resolver a solidão com os cães, humanizando-os... tratando-os como pessoas... Me perdoem os amantes de cachorros, mas investir em cães como se fosse em gente é vergonhoso! Os cães não são seres humanos. Os cães são cães. Podem ser amigos, lindos, companheiros, defensores... Mas continuam sendo cães. É mais fácil conviver com os cães que com os humanos?.. claro que sim! A convivência com ser humano exige troca... exige entrega... E não temos mais muito paciência para isso. Na maioria das vezes, os cães não nos contrariam... O amor é quase "incondicional"... quais são as condições?: comida e contato. Deu comida, fez carinho: pronto, o cão te ama... As pessoas que tratam os cães como gente, acreditam que os cães são "pessoas melhores", afinal de contas, não reclamam com palavras! Vejo que a relação com os cães acaba sendo instrumental. O cão satisfaz algumas carências, sem reclamar muito... Mas é claro que os cães reclamam... É claro que os cães não são gente. Os cães são animais domésticos...
E na relação entre pessoas? Na relação entre pessoas existe algo cotidiano: o conflito. Nas relações interpessoais, os conflitos devem ser resolvidos com diálogo, com paciência, com persistência... E isso não é fácil... Os conflitos existem, pois a vida é dialética, está em intenso movimento! E este movimento não é linear, é contraditório... Respeito os cães, mas não as pessoas que preferem os cães a gente! Ainda encaro o desafio de manter-me ligada com pessoas... com gente!

PS... quem tem cão e não tenta substituir gente por cão, tem todo meu respeito!

quarta-feira, 21 de abril de 2010

dia do índio: Xuxa X Clara Nunes

Como construir uma educação com base crítica, que fale do Brasil e de sua história, se os educadores não têm a História (com H) correndo em suas veias? Se ainda comemoram o “dia do índio” ao som de Xuxa?

Duas reflexões:

Primeira:
No dia 19 (ou seja, na ultima segunda-feira), estava na UEL e vi algumas crianças, que estudam na escola e educação infantil dentro da universidade, fantasiadas de indiozinho... E eu perguntei para uma delas: hoje vocês cantaram "vamos brincar de índio, eu sou mocinho,e blá, blá, blá"?, e a gurizinha respondeu: “é, nós dançamos essa música”. Isso me trouxe uma angustia, pois quem dá o tom para a comemoração do "dia do índio" em uma escola de educação infantil é a Xuxa... É tudo muito hipócrita. Dói ver que os educadores também foram educados sem o mínimo sentimento de resistência. É triste demais, ver que este relato é a expressão do que esta acontecendo por aí, pelo menos na hegemonia colonialista, depois, capitalista, dos últimos 500 anos.

Segunda:
Lembro que na minha viagem para Equador, vivenciei momentos ímpares e, o ponto ápice, foi uma conversa com um jovem em um ônibus, indo para Otavalo (uma cidade de tradição indígena muito peculiar). O jovem me deu aulas de história, economia, cultura, política. Explicou porque o lago se chama Rojo... Contou como aconteceu a ocupação dos Incas e a dizimação dos índios que já haviam naquela região. Falou com orgulho de seu povo, de sua história. Então eu perguntei: você estuda história, geografia ou outra área? Ele respondeu: sou engenheiro. Isso é uma prova de que a resistência é algo que corre nas veias.

Síntese ao "som" de Clara Nunes:
Educação e resistência deveriam caminhar juntas. E dia do Índio, do Trabalhador, da Mulher, são apenas datas utilizadas para se festejar o que não merece ser festejado. Contrariamente, deveríamos usar essas datas para lembrar historicamente, com força capaz de mover mentes e corações de trabalhadores que são centrais neste debate.

Como cantava Clara Nunes (composição de Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro),

“Ninguém ouviu um soluçar de dor no canto do Brasil. Um lamento triste sempre ecoou. Desde que o índio guerreiro foi pro cativeiro e de lá cantou. Negro entoou um canto de revolta pelos ares, no Quilombo dos Palmares onde se refugiou. Fora a luta dos Inconfidentes pela quebra das correntes, nada adiantou. E de guerra em paz de paz em guerra. Todo o povo dessa terra quando pode cantar, canta de dor. E ecoa noite e dia é ensurdecedor. Ai, mas que agonia. O canto do trabalhador esse canto que devia ser um canto de alegria, soa apenas como um soluçar de dor”

Essa música sim deveria ser dançada e cantada nas escolas!

poema de Mario Quintana que recebi de presente!



“A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê, perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê, já passaram-se 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado.
Se me fosse dado, um dia, outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando, pelo caminho,
a casca dourada e inútil das horas.
Desta forma, eu digo:
Não deixe de fazer algo que gosta,
devido à falta de tempo,
pois a única falta que terá
será desse tempo que, infelizmente,
não voltará mais.”

Mário Quintana

terça-feira, 20 de abril de 2010

dialogo na rodoviária!

...apesar de todo cansaso, gosto de rodoviárias! Hoje trabalhei o dia todo, estou mais quebrada que arroz de terceira, como diz meu pai, e mesmo assim, tive que correr para rodoviária de Londrina e passar mais uma preciosa noite da minha vida, dentro de um onibus... Quando chego na rodoviária observo tantas coisa, no instante que escrevo, passa uma mãe arrantando seu filhinho pelo braço e o o meninho balança o outra braço como se fosse uma onda... Tem uma senhora do meu lado, preocupada com o horário do onibus, fala com o neto, veja lá, olhe aqui, parece que mesmo aqui, ela tem medo de perder o onibus. Hoje não está tão lotada, mesmo sendo vespera de feriado. Feriado em meio de semana não faz brasileiro parar (e ainda dizem que somos vagais...)...Agora vejo um casal, a moça é portadora de necessidades especiais e o namorado ou amigo, a carrega em um carrinho de carregar malas. E ela esta sossegadérrima, parece que procuram alguém. Nas rodoviárias observo as relações afetivas, as lágrimas de despedida, a ansiedade de quem quase não viaja, o cansanço de quem semanalmente se mete dentro de um onibus, como eu. E assim vamos todos seguindo. Para onde? Não sei exatamente... Mas vamos todos seguindo. Depois de um dia intenso de trabalho, vale a pena observar... pelo menos isso!

Agora senta um senhor ao meu lado, negro, de chapéu, óculos de sol, todo cheiroso, um velhinho vaidoso, relógio no pulso. Onde será que ele vai? Que vontade de perguntar! kkknão precisou, ele me abordou... olhou para mim e disse: não é fácil não. E disse que anda por este Brasil observando tudo. E percebeu que viu que eu também estou observando. Me disse que viaja o Brasil o todo. Que em Janeiro fez 86 anos... Me conta que chegou ontem e viu um menino dormindo e pensou "quem cuida dessas crianças nesta cidade" e que "temos que olhar para as crianças deste país". O nome dele é Adão. Tem 7 filhos e 14 netos. Falou que o "orgulho mata o homem e mata a mulher" e que sem deus não somos nada. Ele vende bordado... Começou me evangelizar... kkkk

segunda-feira, 19 de abril de 2010

um pesadelo e a vantade de contar para o Dr. Jung

... ontem, depois de passar horas conversando com um novo amigo no messenger, fui dormir querendo sonhar com borboletas, flores, Woodstock, Bob Marley, Doze Tribos, mar, montanha, vento, Karl Marx, cheiro de café, alfazema, Tim Maia Racional... Mas, ao contrário disso, tive um sonho pesado.Sonho pesado = pesadelo. Na primeira parte do sonho, entrei em conflito com uma colega de trabalho. Comprei uma "briga" de graça... E o preço a ser pago seria bem alto. Havia me arrependido, mas não tinha mais como voltar atrás (nunca há chance de voltar atrás, a única coisa que podemos fazer é caminhar para frente e, reconstruir, reiventar... mas voltar para trás, não dá...) Isso foi pesado, complicado. Na segunda parte do sonho as coisas se desenrolaram de forma mais surreal. Havia animais de todos os tipos, todos fora de suas jaulas. Todos doentes. Quase morrendo. Entrei em um multirão para salvá-los. Aqui não havia pessoa conhecida. Só aqueles desconhecidos que visitam nossos sonhos... Bom... trabalhamos muito, curando os animais. Ursos, leões, onças, gorilas e alguns que não existem, meio mostruosos... E conseguimos nossas meta, pois os animais reviveram. Porém, algo aterrorizante aconteceu, pois os bichos passaram a nos atacar. Tivemos que ocupar as jaulas. E eles ficavam rosnando do lado de fora. Amassando as grades com suas patas fortes. E eu, naquele desepero, próprio dos pesadelos, chorava de medo e, ao mesmo tempo, queria entender... Não me conformava com o fato de ter salvo os animais, para depois eles me perseguirem. Tudo muito tenso, pesado...Acordei. Como é bom acordar em um pesadelo. Acordei querendo entender. Fiquei pensando: o que o Dr. Jung diria se eu fosse sua "paciente"? Quais os arquétipos, os simbolos, os significados deste sonho? Queria muito que o Dr. Jung me explicasse, pois Dr. Freud eu já sei o que diria. Queria sentar frente a frente com Dr. Jung e entender com ele o que a minha mente "materializou" neste sonho. Dr.Jung, só com ele!

sábado, 17 de abril de 2010

blá, blá, blá com o passado e Shakespeare

... esta semana, o Passado (que veste um par de calças) me abordou (devo lembrar que o "Passado" já foi identificado neste blog como "Vampiro"). E o Passado, falou comigo, numa nova tentativa de resgatar a sua história e, como sempre, me culpar por ela. Para não ser diferente, eu, conversei com o passado e tentei culpá-lo por sua história. Discutir o passado com o Passado, chega ser uma ação burra... Mas, pela milionésima vez disse para o Passado "eu tentei, eu fiz de tudo, blá, blá, blá, blá, blá, blá" e o Passado disse "blá, blá, blá, blá, blá, blá"... E como sempre o diálogo com o Passado mexeu. As vezes penso que o Passado quer voltar a ser presente, ou pelo menos, ter a garantia de que pode voltar a ser presente quando bem quiser.. mas e o futuro? (não toque no assunto de futuro com o Passado!). E eu, em minha loucura, as vezes também desejo que o Passado volte a ser presente, todavia lembro de como foi o Passado e penso no futuro. O Passado já ensinou o que é, como é, o que faz. E um passado ruim não vale a pena reviver. Tenho a convicção de que a conversa com o Passado nunca me faz bem, afinal de contas, o Passado é passado...passou. E com o "blá, blá, blá" do Passado, fiquei me sentindo culpada, como sempre. E o meu "blá, blá, blá" não o sensibilizou o Passado, como sempre. Então, a conversa com o Passado pesou. Depois disso segui para a rota presente e viajei para São Paulo, chegando lá, ao ler o texto para aula, me deparei com um pensamento fenomenal. Um pensamento que deu sentido a todo o "blá, blá, blá". Um pensamento que sintetizou toda a dor que vivi no/com o (p)Passado. Derrepente, na obra "O Capital" de Karl Marx, encontro uma nota de rodapé: "O CURSO DO VERDADEIRO AMOR NUNCA É SUAVE" (Shakespeare)... Fiquei repetindo para mim mesma: "o curso do verdadeiro amor nunca é suave"; "o curso do verdadeiro amor nunca é suave"; "o curso do verdadeiro amor nunca é suave"; intercalando com as lembranças do "blá, blá, blá" que tive com o Passado.
"o curso do verdadeiro amor nunca é suave";
"blá, blá, blá"
"o curso do verdadeiro amor nunca é suave";
"blá, blá, blá"...
E assim segui o dia...
Então, saquei que no "blá, blá, blá" com o Passado, ninguém tem a razão que queria ter, nem eu, nem o Passado, pois, "o curso do verdadeiro amor nunca é suave" e Shakespeare tem razão, ao falar da emoção. E ainda bem que a vida é histórica e dialética... sem reviver passado, sim considerar história!

sexta-feira, 9 de abril de 2010

texto divulgado pelos moradores de favelas de Niterói

Nós, moradores de favelas de Niterói, fomos duramente atingidos por uma tragédia de grandes dimensões. Essa tragédia, mais do que resultado das chuvas, foi causada pela omissão do poder público. A prefeitura de Niterói investe em obras milionárias para enfeitar a cidade e não faz as obras de infra-estrutura que poderiam salvar vidas. As comunidades de Niterói estão abandonadas à sua própria sorte.

Enquanto isso, com a conivência do poder público, a especulação imobiliária depreda o meio ambiente, ocupa o solo urbano de modo desordenado e submete toda a população à sua ganância.

Quando ainda escavamos a terra com nossas mãos para retirarmos os corpos das dezenas de mortos nos deslizamentos, ouvimos o prefeito Jorge Roberto Silveira, o secretário de obras Mocarzel, o governador Sérgio Cabral e o presidente Lula colocarem em nossas costas a culpa pela tragédia. Estamos indignados, revoltados e recusamos essa culpa. Nossa dor está sendo usada para legitimar os projetos de remoção e retirar o nosso direito à cidade.

Nós, favelados, somos parte da cidade e a construímos com nossas mãos e nosso suor. Não podemos ser culpados por sofrermos com décadas de abandono, por sermos vítimas da brutal desigualdade social brasileira e de um modelo urbano excludente. Os que nos culpam, justamente no momento em que mais precisamos de apoio e solidariedade, jamais souberam o que é perder sua casa, seus pertences, sua vida e sua história em situações como a que vivemos agora.

Nossa indignação é ainda maior que nossa tristeza e, em respeito à nossa dor, exigimos o retratamento imediato das autoridades públicas.

Ao invés de declarações que culpam a chuva ou os mortos, queremos o compromisso com políticas públicas que nos respeitem como cidadãos e seres humanos.



Comitê de Mobilização e Solidariedade das Favelas de Niterói

Associação de Moradores do Morro do Estado

Associação de Moradores do Morro da Chácara

SINDSPREV/RJ

SEPE - Niterói

SINTUFF

DCE-UFF

Mandato do vereador Renatinho (PSOL)

Mandato do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL)

Associação dos Profissionais e Amigos do Funk (APAFUNK)

Movimento Direito pra Quem

Coletivo do Curso de Formação de Agentes Culturais Populares

quinta-feira, 8 de abril de 2010

tragédia no Rio

...que tragédia no Estado do Rio de Janeiro. Quanta tragédia, este ano.
A natureza está gritando, inclusive o bixo homem, que faz parte dela.

muito triste, imensamente triste.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

... farei valer a pena!

... "tudo é uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo", assim canta Walter Franco... Gosto disso... Desejo isso... Mas na real, não é fácil não... Na real, a vida fica pesada... Na real, nada vem de bandeja... Essa coisa de fazer doutorado longe de casa é complicado. Viajar, cansar... dói joelho, dói o corpo. Ganha-se olheiras, que tem me incomodado muito por sinal. Noites sem dormir. Enfim, a tarefa não é tranquila. Batalhar... Hoje cheguei aqui em São Paulo e estava só o pó... Cheguei e aquela garoa tristonha, aquele trem lotado. É como se chegasse em uma selva cinza. Uma selva movimentada. Então pensei: até que ponto vale a pena? Mas, ao chegar na USP, tomando um cafezinho pude retomar o eixo e deize4r para mim mesma: vale a pena sim! Como nada vem de bandeja, vale a pena. Como não sou "leitinho tipo A", o desafio vale a pena. Ficar parada é o que não dá... E logo, fui para aula e valeu a pena... Vale a pena... Mas, diante disso tudo, o que mais espero é que realmente vala a pena para algo mais... não só para aumentar meu salário... Quero que minha tese gere algum processo. Quero transformar uma pesquisa acadêmica em uma discussão que surta algum efeito. Eis o maior desafio de todos... Isso sim é desafio. Por isso: "tudo é uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo" (W.F)... Farei valer a pena!

o onibus chegou, ufa!

domingo, 4 de abril de 2010

julgamento do casal Nardoni e vitória do BBB Dourado

Não tenho muita leitura e teorização para analisar fenômenos inseridos no contexto da subjetividade, todavia, a subjetividade esta eminentemente viculada a objetividade, por isso, com o pouco que estudei sobre ideologia na perspectiva do materialismo histórico e dialético, posso arriscar algumas palavras no que se refere a questão da mídia e da violência. Na verdade, tenho estudado um pouco sobre isso, em especial, sobre a influência da mídia na construção do pânico diante da violência urbana. As notícias valorizadas pela Rede Globo (que é a emissora que mais maqueia suas matérias com um ar de seriedade) sempre chamam a minha atenção e nas duas ultimas semanas dois pontos de pauta da emissora, aparentemente independentes, para mim fizeram sentido juntos. Os pontos: julgamento do casal Nardoni e a campanha pelo BBB Dourado. Já era certo que julgamento do casal Nardoni chamaria a atenção, afinal de contas, uma criança foi jogada pela janela. E não foi qualquer criança. A criança era bonita, tinha quarto rosa, roupa da moda infantil e duas famílias de classe média para lhe dar suporte. Esta criança era o ícone da criança feliz. Sim, a menina com quarto rosa! E porque ceifariam a vida de uma criança tão feliz? Acabariam com um futuro tão promissor? Porque o pai e a madrasta a jogariam pela janela? Comoção na certa. Lembremos que as crianças que não têm quarto rosa, nem famílias de classe média para respaldá-las e sofrem violência todos os dias, não ganham tanta visibilidade. Por quê? Talvez porque as crianças já vitimadas pela violência estrutural passam despercebidas diante dos olhos de uma grande maioria que olha para elas e se vê (Vejam: eu escrevi talvez. Mais um alerta: no início do texto disse que não tenho teorização necessária para falar de subjetividade, mesmo assim, quis esboçar algumas idéias aqui no blog). Outra questão importante é o pressuposto de que pais pobres, "sem cultura" naturalmente violentam suas crianças e a situação Isabella destoa este lugar comum. Destoa pois a menina caiu pela janela, como esconder isso? Sabemos bem que a violência doméstica é fenômeno que acontece entre quatro paredes. Quatro paredes de favelas e de condomínios fechados. Há uma diferença essencial: a forma que o "respeito" a vida privada é conduzido. Só isso. O que me faz entender desta maneira é a percepção diante do discurso ideológico dominante. O discurso que naturaliza a desigualdade e que culbalibiza os pobres pela pobreza. Discurso difundido pelo pensamento dominante, que é aderido por todas as classes, inclusive, pelas classes populares (aquelas culpabilizadas pela vida dura que vivem!). A vida saudável de uma criança de classe média torna-se objeto de desejo de todos aqueles não tiveram uma infância a base de "leitinho tipo A", então a identidade se materializa de forma diferente. Ou melhor dizendo, a (des)identidade se mostra como um olhar por uma janela, como o assistir de um filme, de uma novela. Vou caminhar para onde realmente interessa: a comoção popular. O julgamento acontecendo com toda pompa que o "Estado Democrático de Direito" permite e, do lado de fora, pessoas chorando, vestidas de verde e amarelo clamando por justiça. Foi assustador ver a violência nos olhos das pessoas que estavam clamando por justiça (aqui cabe uma informação: o Brasil é um dos campeões no ranking de linchamentos). E o que o BBB Dourado tem haver com essa história? Nada... Nada... Mas eu vi um ponto em comum. O moço, que é tosco ao extremo, grosseiro, machista, homofóbico, enfim, um cara agressivo (para não dizer violento), ganhou o premio de um milhão de reais. Então fiquei pensando que por mais que haja manipulação da emissora, do Pedro Bial e do diabo a quatro (para não escrever palavrão), o povo vota neste troço. Então tentei compreender alguns dos argumentos da vitória daquele cara tosco. Vi na Ana Maria “Brega” alguns artistas de quinta falarem do porquê da vitória do Dourado (a mocinha bonita Débora Secco falou que votou 5 mil vezes nele). Também observei pessoas "comuns" defenderam a vitória do tosco, opa, do moço. Eis o argumento: ele mostrou quem é. Mostrou que os brutos também amam. E este argumento sempre teve na rabeira a desqualificação do outro moço. Do moço que foi “bonzinho” o programa todo. Que foi amigo. Que não comprou encrenca. Que não foi agressivo. Percebi que este moço foi visto com maus olhos por ser considerado “sonso”. E, entre um moço bonzinho considerado sonso e um moço agressivo considerado sincero. O agressivo ganhou disparado. Então fiquei pensando: porque será que o povo gosta de pessoas agressivas? Porque será que dias atrás as pessoas estavam clamando por justiça contra a violência que tirou a vida da menina do quarto rosa e na outra semana decide que um moço agressivo (para não dizer violento) ganhe o premio de um milhão de reais? Quem votou em Dourado foi quem clamou por justiça no caso Isabella? Sim... claro que sim... A Rede Globo, pelo menos sim. E, é claro, a manipulação ideológica, que só existe vinculada com a concreticidade que uma grande força nisso. O trabalhador tem que ser agressivo para sobreviver diante da exploração do trabalho e da ausência dele. Identidade com a personalidade agressiva. As crianças são personagens "indefesos", "vulneráveis", então há a comoção diante da violência contra este segmento social, em especial daquela criança que tinha uma vida "boa" pela frente. Identidade com a inocência de Isabella.
Então eu me pergunto: que movimento é esse? Sim, este é o movimento que a sociedade contemporânea se encontra. É a violência e seu lugar instável, todavia, presente. Sempre presente. Se a violência é hoje criticada por mim, amanhã ela pode ser defendida. Depois de amanhã posso agir com violência, ou sofrer, por conta dela.
A violência é fenômeno histórico, complexo e multifacetado. A violência não é privilégio do modo de produção capitalista. Mas, é na sociabilidade capitalista que vivemos, por isso, não podemos compreender a violência apenas a partir da ótica cultural e ideológica. A violência é fenômeno inserido nas relações materiais. E em uma ordem que se organiza a partir da desordem da essência humana; em uma ordem que desumaniza; em uma ordem que utilizada cotidianamente da instrumentalidade da violência (como ensina Hannah Arendt) para se manter; É certo que a confusão se estabelece e é normal clamar por justiça contra uma ação violenta e na mesma semana torcer por uma personalidade agressiva. Eis mais uma contradição!
Por isso, só é possível fechar este texto com Bertold Brecht

“Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo. E examinai, sobretudo, o que parece habitual. Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural nada deve ser impossível de mudar”.



PS: Em tempo, coloco que não estou julgando o BBB, até porque não tenho como perder meu precioso tempo assistindo um reality show... O pouco que vi do moço não gostei. É só isso.

quinta-feira, 18 de março de 2010

... não sou mais um joguete

Há um tempo atrás prometi para mim mesma que não seria mais um joguete na mão de nenhum homem. E isso não é tarefa fácil. Os homens estão cada vez mais livres para impor as condições de um relacionamento e dizer: é do meu jeito, ou caia fora. Ultimamente, tenho tentado valorizar-me mais. Tenho tentado olhar para os homens e ter a convicção que não dependo deles para ser feliz. Essas tentativas não têm sido fáceis. Na verdade, valorizar-se como mulher não é fácil em uma sociedade em que há mais homens que mulheres e que nós, mulheres, estamos confusas. Muitas mulheres têm dado tudo e mais um pouco, na esperança de satisfazer o desejo dos homens e, quem sabe, ganhá-los. Todavia, ao dar tudo, perdemos tudo, pois perdemos nossa alma. Dizer NÃO é difícil. Dizer SIM é fácil... Nos tempos da minha mãe, a questão era contrária. Era muito mais difícil para uma mulher dizer sim. Mas hoje, podemos tudo. Podemos dizer sim. E assim fazemos. Podemos tudo, porém, sinto que não podemos dizer NÃO... Então não podemos tudo. É uma ilusão que podemos tudo. Estamos presas. Presas ao sim. Os homens também estão confusos: não precisam de muito esforço para ganhar um sim. Certamente isso trás confusão, pois a ausência de dedicação deve trazer um vazio, todavia, o empenho de esforços em um mundo que não pede mais isso, chega ser burrice. Sim, deve ser esse o raciocínio do homem pós-moderno. Melhor conviver com o vazio do que ter que se dedicar para a conquista de uma mulher. O homem que é acostumado a ter seus desejos satisfeitos de forma imediata, não dá conta de uma mulher que quer pensar mais, que quer conhecê-lo melhor, que quer respeitar-se mais. E, quando dizemos não, eles caem fora. Ou nos tiram de sua vida. A lei do mínimo esforço, deve ser isso. Aos 33 anos, posso, sem medo de errar, gritar a todos os cantos: NÃO QUERO MAIS SER UM JOGUETE! Mesmo que para isso eu pague o preço de ficar sozinha, até encontrar um homem confiável ao ponto de ganhar o meu sim. Não estou falando de casamento ou qualquer outro tipo de relação formal. Mas falo do encontro verdadeiro, do encontro d´alma. Acredito que quando uma alma encanta a outra, existe respeito. A pressa, a afobação, as cobranças não fazem parte deste processo. Os homens afobados me perderão. A afobação não é sinal de interesse, ao contrário disso, a afobação é uma forma egoísta do homem satisfazer os seus desejos. O homem apressado não está olhando para a mulher, mas olha para um objeto que lhe causa muito desejo. Querem ter aquele objeto na hora que desejam, como desejam, onde desejam. Não posso mais me entregar para homens que olham para mim e vêem um objeto. Não sou mais joguete e ponto final. Mas, tenho que relativizar aqui, pois optar por não ser um joguete, também é jogar. É jogar um jogo que os homens não têm mais paciência de jogar.

terça-feira, 16 de março de 2010

estresse e paciência em São Paulo.

... acabo de chegar em São Paulo, e hoje tive mais uma percepção sobre esta selva civilizada. São Paulo é um lugar de gente estressada e paciente ao mesmo tempo. Estresse, impossível se manter afastado dele neste aglomerado de gente, de prédios, de carros, de poluição. Paciência, impossível se manter afatado dela diante das filas, dos metrôs e onibus lotados, das distâncias. Hoje estava observando o ir e vir das pessoas na estaçao Barra Funda, e vi no meio da loucura plena, uma grande organização. Uma certa domesticação, poderia dizer. As pessoas param nas filas, olham para o nada e seguem suas vidas. As pessoas se equilibram nos vagões do metro e olham, olham, olham para o nada. Em que elas estão pensando? Talvez pensam em suas vidas, nas alegrias, tristezas, desafios, ou, simplesmente, dormem de olhos abertos. Dormindo de olhos abertos podem sonhar. Dormindo de olhos abertos podem viver pesadelos intermináveis. É, acho que elas dormem de olhos abertos...

quinta-feira, 11 de março de 2010

... o nove de paus

"O nove de paus é a carta da reserva de força. ele retrata otremento poder da imaginação criativa, pois justamente quando sentimos que não podemos mais lutar ou nos confrontamos com outra dificuldade, de alguma maneira, no meio desse estresse, as idéias e a energia se tornam disponíveis para enrer esse desafio final antes do objetivo [...] No sentido divinatório, o Nove de Paus anuncia um período em que, no ponto de exaustão, um desafio final surge para impedir que alcancemos nossa meta; e quando, de alguma forma, encontramos misteriosamente a reseva de força para fazer frente ao desafio. Essa força somente é disponível quando todas a spossibildiades foram exauridas e parece ser invocada tanto pela nossa necessidade quanto pela nossa diponibilidade, apesar da exaustão, em tentar uma vez mais" (SHARMAN-BURKE e GREENE, p. 159 - 160)

domingo, 7 de março de 2010

A mulher e o resgate do potencial criativo

Amanhã, 08 de Março, é dia "Internacional da Mulher"... Todos os anos, proferi reverências as mulheres revolucionárias! Mulheres que romperam com precoceitos, com a subserviência, com o machismo, com a moral. Mulheres que mudaram a história. Mas hoje, estranhamente, penso em mulheres mais revolucionárias que aquelas dos anos anteriores. Reverencio mulheres de carne e osso. Penso na minha mãe, nas minhas avós, nas minhas irmãs, nas minhas tias, nas minhas amigas. Somos mulheres, sabemos bem o quanto batalhamos no dia a dia... Por isso, as mulheres reais, mulheres que estão próximas, que me ajudam cotidianamente, merecem meu respeito, admiração e homenagem.
Além disso, lembro também das mulheres trabalhadoras, que são oprimidas todos os dias. Mulheres que possuem jornada de trabalho dupla. Mulheres que possuem jonarda de trabalho integral em suas casas. Mulheres que deixam seus filhos em casa para cuidar dos filhos de suas "patroas". Mulheres que deixam seus filhos para outras pessoas cuidarem e saem para trabalhar. Enfim, todas as mulheres trabalhadoras! Essas também merecem minha reverência.
Agora há algo comum entre todas, independente do status quo... Todas as mulheres se deparam com circunstâncias que afetam seu potencial criativo, que matam a mulher selvagem. Nós mulheres vivemos sob a égide da opressão que foi historicamente construída. O pensamento opressor é o nosso grande vassalo. A confusão contemporânea, as cobranças. Opressão que enlouquece. Opressão que mata todo potencial criativo. Opressão que mata a mulher selvagem. Opressão que traz o tudo e o nada. É certo que este papo de mulher selvagem vai na contra-mão dos debates feministas. Mas eu confesso: quero despertar a mulher selvagem que existe em mim. Quero resgatar meu potencial criativo. Quero manter o animus vivo, iluminado, em movimento! Por isso, presenteio as mulheres e homens que querem auxiliar as mulheres na tarefa de manter o potencial criativo, com um trecho do livro "Mulheres que correm com os lobos"... Quem tiver paciência, leia o excerto abaixo!
Que todos os dias sejam nossos dias!!!!!



ESTÉS, Clarisse Pinkola Estés. Mulheres que correm com os lobos: mitos e histórias do arquétipo da mulher selvagem. Rio de Janeiro: Rocco, 1994.

p. 377 - 379

La Llorona

Um rico hidalgo, fidalgo, corteja uma moça pobre, mas muito bonita, e conquista seu afeto. Ela lhe dá dois filhos, mas ele não se dispõe a casar com ela. Um dia, ele comunica que vai voltar para a Espanha, onde se casará com uma moça rica escolhida por sua família, e que vai levar seus filhos para lá. A jovem mãe fica fora de si e age no estilo das célebres loucas enfurecidas de todos os tempos. Ela arranha o rosto do homem e arranha seu próprio rosto. Rasga as vestes dele e rasga as suas próprias vestes. Ela apanha os dois meninos pequenos, corre para o rio com eles e lá os joga na correnteza. As crianças morrem afogadas, e La Llorona cai às margens do rio, cheia de dor, e morre.
0 hidalgo volta para a Espanha e se casa com a mulher rica. A alma de La Llorona sobe aos céus. Lá o porteiro-mor diz que ela pode entrar nos céus, já que sofreu, mas que não pode lá entrar sem antes resgatar do rio as almas das duas crianças.
E é por isso que se diz hoje em dia que La Llorona vasculha as margens dos rios com seus longos cabelos, que mergulha seus dedos compridos na água para arrastá-los no fundo à procura dos filhos. É também por isso que as crianças vivas não devem se aproximar dos rios depois de anoitecer, porque La Llorona pode confundi-las com seus próprios filhos e levá-las embora para sempre.

Passemos, agora, a uma versão moderna de La Llorona. À medida que a cultura sofre influências diversas, nosso modo de pensar, nossas atitudes e nossos temas mudam. Muda, também, a história de La Llorona. Enquanto eu estava no Colorado no ano passado, colhendo histórias de fantasmas, Danny Salazar, um menino de dez anos de idade, sem dentes incisivos e com pés absurdamente grandes para um corpo mirrado (que um dia será muito alto), me passou esta história. Ele me garantiu que La Llorona não matou os filhos pelos motivos mencionados na versão antiga.
"Não, não", insistiu Danny. La Llorona ficou com um rico hidalgo, dono de fábricas junto ao rio. Algo, no entanto, deu errado. Durante a gravidez, La Llorona bebeu água do rio. Seus filhinhos, dois meninos gêmeos, nasceram cegos e com os dedos unidos por membranas, pois o hidalgo havia envenenado o rio com os dejetos das suas fábricas.
0 hidalgo disse a La Llorona que não a queria, nem a seus filhos. Ele se casou com uma mulher rica que queria os objetos produzidos pela fábrica. La Llorona jogou os filhos no rio porque eles iriam levar uma vida extremamente difícil. Depois, ela caiu morta de tanta dor. Ela foi para o céu, mas São Pedro lhe disse que ela não poderia entrar enquanto não encontrasse as almas dos filhos. Agora La Llorona procura o tempo todo por seus filhos no rio poluído, mas ela mal chega a ver alguma coisa de tão escura e suja que é a água. Ora seus longos dedos de fantasma varrem o fundo do rio. Ora ela vagueia pelas margens chamando pelos filhos o tempo todo.


p. 394 - 398

Reassumindo o rio

A natureza da vida-morte-vida faz com que o destino, o relacionamento, o amor, a criatividade e tudo o mais se movimentem em coreografias amplas e selvagens, uma atrás da outra na seguinte ordem: criação, crescimento, poder, dissolução, morte, incubação, criação, e assim por diante. A sabotagem ou a ausência de idéias, pensamentos, sentimentos é o resultado de uma corrente tumultuada. Eis como reassumir o rio.
Aceite o alimento para começar a limpeza do rio. Elementos contaminadores que perturbam o rio ficam óbvios quando a mulher rejeita elogios sinceros acerca da sua vida criativa. Pode ser que haja apenas um pouquinho de poluição, como no despreocupado "Ah, como você está sendo simpático com esse elogio", ou pode ser que os problemas com o rio sejam graves: "Ora, essa velharia" ou "Você deve estar ficando louco." Além da atitude defensiva: "É claro que eu sou maravilhosa. Como você poderia deixar de perceber?" Todas essas expressões são sinais de um animus enfermo. Podem chegar coisas boas à mulher, mas elas são imediatamente envenenadas.
Para reverter o fenômeno, a mulher treina aceitar elogios (mesmo que a princípio ela dê a impressão de estar se jogando ao cumprimento para, dessa vez, ficar com ele). Ela o saboreia e repele o animus maligno que quer responder "Isso é o que você pensa. Você na verdade não sabe todos os erros que ela fez. Você não sabe como ela é chata...", e assim por diante.
Os complexos negativos sentem uma atração especial pelas idéias mais suculentas, pelas idéias mais maravilhosas e revolucionárias e pelas formas de criatividade mais extravagantes. Portanto, não há outra alternativa: precisamos invocar um animus que aja com maior limpeza, e o mais velho deverá ser aposentado, ou seja, transferido para os arquivos da psique, onde deixamos arquivados impulsos e catalisadores vazios e dobrados. Ali eles se transformam em artefatos, em vez de agentes ou de emoção.
Seja sensível. É assim que se limpa o rio. Os lobos levam vidas imensamente criativas. Eles fazem dezenas de opções todos os dias, decidem de um modo ou de outro, avaliam distâncias, concentram-se na presa, calculam as suas chances, aproveitam oportunidades, reagem vigorosamente para realizar suas metas. Suas capacidades de encontrar o que está oculto, de aglutinar intenções, de focalizar a atenção no resultado desejado e de agir em seu próprio benefício para atingi-lo são as exatas características necessárias para a realização criativa nos seres humanos.
Para criar é preciso que sejamos capazes de nos sensibilizar. A criatividade é a capacidade de ser sensível a tudo que nos cerca, a escolher em meio às centenas de possibilidades de pensamento, sentimento, ação e reação, e a reunir tudo isso numa mensagem, expressão ou reação inigualável que transite ímpeto, paixão e determinação. Nesse sentido, a perda do nosso ambiente criativo significa que nos encontramos listadas a uma única opção, que fomos despojadas dos nossos sentimentos e pensamentos, ou que os reprimimos ou censuramos, sem agir, sem falar, sem fazer, sem ser.
Seja selvagem. É assim que se limpa o rio. O rio não começa já poluído; isso é nossa responsabilidade. O rio não fica seco; nós o represamos. Se quisermos lhe permitir sua liberdade, precisamos deixar que nossa vida ideativa se solte, corra livre, permitindo a vinda de qualquer coisa, a princípio sem censurar nada. Essa é a vida criativa. Ela é composta do paradoxo divino. Para criar, precisamos estar dispostas a ser rematadas idiotas, a nos sentar num trono em cima de um imbecil, cuspindo rubis pela nossa boca. Só assim o rio correrá, e nós poderemos nos postar na correnteza. Podemos estender nossas saias e blusas para apanhar o que pudermos carregar.
Comece. É assim que se limpa o rio poluído. Se você tiver medo, tiver receio de fracassar, digo-lhe que comece já, fracasse se for preciso, recupere-se, recomece. Se fracassar de novo, fracassou. E daí? Comece novamente. Não é o fracasso que nos detém, mas é a relutância em recomeçar que nos faz estagnar. Se você estiver apavorada, qual é o problema? Se você estiver com medo de que algo vá dar um salto para mordê-la então pelo amor de Deus, resolva isso imediatamente. Deixei que seu medo surja e a morda para que você possa superá-lo e seguir adiante. Você irá superá-lo. O medo acaba passando. Nesse caso, é melhor que você o encare de frente, que o sinta e que o supere, do que continuar a usá-lo como pretexto parai evitar limpar o rio.
Proteja seu tempo. É assim que se eliminam os poluentes. Conheço uma pintora muito impetuosa nas Montanhas Rochosas que pendura o seguinte cartaz na porta de casa quando ela está disposta a pintar ou a pensar. "Hoje estou trabalhando e não vou receber visitas. Sei que você pensa que isso não se aplica a você porque você é o gerente da minha conta no banco, meu agente ou meu melhor amigo. Mas se aplica sim.’’
Outra escultora que conheço tem o seguinte cartaz pendurado no portão. "Não perturbe a não ser que eu tenha ganho a loteria ou que alguém tenha visto Jesus Cristo na rodovia de Old Taos." Como se pode ver, o animus positivo tem excelentes fronteiras.
Fique com ela. Como eliminar ainda mais a poluição? Insistindo para que nada impeça de exercitar o animus; continuando nossas iniciativas que tecem alma e criam asas, nossa arte, nossos consertos e remendos psíquicos, quer nos sintamos fortes, quer não, quer estejamos prontas, quer não. Se necessário, nos amarrando ao mastro, à cadeira, à mesa de trabalho, à árvore, ao cacto — onde quer que estejamos criando.
Esses complexos negativos são eliminados ou transformados — seus sonhos irão guiá-la no trecho final do caminho — quando você finca o pé, de uma vez por todas, e afirma, "Amo a minha vida criativa mais do que amo cooperar com a minha própria opressão." Se maltratássemos nossos filhos, o serviço de assistência social viria bater às nossas portas. Se maltratássemos nossos animais de estimação, a sociedade protetora dos animais viria nos afastar deles. No entanto, não existe nenhuma Patrulha da Criatividade ou Polícia da Alma para intervir se insistirmos em esfaimar nossa alma. Somos só nós mesmas. Nós somos as únicas a cuidar do Self da alma e do animus heróico. É uma enorme crueldade regá-los apenas uma vez por semana, uma vez por mês ou mesmo uma vez por ano. Cada um deles tem seu ritmo circadiano. Eles precisam de nós e da água da nossa atividade todos os dias.
Proteja sua vida criativa. Se você quiser evitar a hambre del alma, a alma faminta, chame o problema pelo seu verdadeiro nome e trate de consertá-lo. Pratique sua atividade todos os dias. E então, não permita que nenhum homem, mulher, parceiro, amigo, religião, emprego ou voz resmungona venha forçá-la a passar fome. Se necessário, arreganhe os dentes.
Forje seu verdadeiro trabalho. Construa aquele abrigo de carinho e conhecimento. Transfira sua energia de um lado para o outro. Insista em atingir um equilíbrio entre a responsabilidade prosaica e o êxtase pessoal. Proteja a alma. Insista numa vida criativa de qualidade. Não permita que seus próprios complexos, sua cultura, os dejetos intelectuais ou que qualquer papo-furado político, pedagógico, aristocrático ou pretensioso lhe roubem essa vida.
Ofereça alimentos para a vida criativa. Embora muitas coisas sejam boas e nutritivas para a alma, a maioria recai num dos quatro grupos básicos de alimentos da Mulher Selvagem: o tempo, a sensação de integração, a paixão e a soberania. Faça estoque deles. Eles mantêm o rio limpo.
Quando o rio estiver novamente limpo, ele estará livre para correr. A produção criativa da mulher aumenta e daí em diante continua em ciclos naturais de aumento e redução. Nada será enlameado ou destruído por muito tempo. Quaisquer agentes de contaminação que ocorram naturalmente serão neutralizados com eficácia. O rio volta a ser nosso sistema de realimentação, um sistema no qual penetramos sem medo, do qual podemos beber sem preocupação, junto ao qual podemos tranqüilizar a alma atormentada de La Llorona, curando seus filhos e os devolvendo para ela. Podemos então desmontar o mecanismo poluente da fábrica, instalar um novo animus. Podemos viver nossa vida como desejarmos e como nos for conveniente, ali ao lado do rio, com nossos filhinhos no colo, mostrando-lhes seu reflexo na água limpíssima.

neste link é possível baixar o livro gratuitamente:
http://www.easy-share.com/1904537073/Mulheres%20que%20correm%20com%20os%20lobos%20-%20Clarissa%20Pinkola%20Estes.rtf

sexta-feira, 5 de março de 2010

Sampa, USP e eu...

A ultima vez que tentei postar algo aqui no blog, estava sentada embaixo de uma árvore, num lugar muito novo para mim: na USP! Lá, um turbilhão de pensamentos invadia minha mente. Por isso, escrevo aqui sobre Sampa, USP e eu...
A USP e seu universo, é para mim, a expressão do sentido estrito do termo universidade... Sim, podem dizer que o que tenho é um fetiche bobo... Eu digo isso para mim mesma o tempo todo. USP = fetiche da academia. Mas lá, andando por aqueles corredores, participando de um evento, observando a forma que aquelas pessoas interagem entre elas, interagem com a ciência, é algo encantador. Por isso, resolvi me dar este presente. Matriculei-me para fazer algumas disciplinas por lá. Me alimentarei um pouco daquela energia. Sair toda semana daqui para Sampa, será menos cansativo, que sair daqui para o interiorzão paulista. No ao passado eu precisava do acalento do pão de queijo comido na rodoviária de Franca. Este ano eu preciso da movimentação da maior cidade da América do sul. Agora toquei em um ponto complexo: São Paulo. Em São Paulo tudo acontece. Tudo de interessante, de diverso, de novidade. Tudo de cansativo, de contradição, de medo. Sempre digo que em São Paulo me sinto extremamente livre e, ao mesmo tempo, extremamente presa. Andar em Sampa, naqueles ônibus, trens, metrôs lotados. Observar pessoas. Observar olhares. Observar sinais. Este é meu exercício (quando o cansaço não me esgota)... Fico observando as pessoas. Fico observando lugares. E desta vez, fiz rotas por mim muito desconhecidas. Observei pela janela. E ficou claro a diferença da zona sul e da zona leste. Quando o ônibus sai da USP e faz um caminho pela paulista, só se vê pela janela belas ruas, jardins, casas, prédios. E, quando se chega na Paulista, parece que São Paulo é só aquilo. Diferente de andar na zona leste, nas periferias. Sempre que fui para Sampa, envolvi-me muito mais com a periferia que com a Paulista. Na Paulista sempre fui visitante de uma noite. Mas desta vez, foi diferente. Olhei da Paulista para a realidade da periferia. Como se pegasse um binóculo e ficasse olhando para os pontos mais pobres da cidade, em uma confortável sacada na zona sul. Saquei de forma diferente o que sempre soube. Talvez, estar no centro da vida universitária do país, trouxe-me certos pensamentos. Enfim, estar deslumbrada na USP, pesa um pouco, para mim, afinal de contas, sei que o deslumbre da USP e da Zona Sul de São Paulo, está bem distante da realidade vivida por aquelas pessoas que observo nas ruas de Sampa. Quando a academia estuda a vida real, é claro que se aproxima dos movimentos do real. Mas, há uma distância, e esta distância é grande.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

... ainda na demanda da mundaça... cansa!

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

"O Solista": lindo filme!





Sou uma carnavalesca de quinta categoria. Mesmo me emocionando ao ouvir os tamborins, surdos, reco-reco, cuíca, achar lindas as marchinhas, amar o frevo, encantar-me com o som do maracatu e as cores do carnaval encherem meus olhos, não consigo mover uma palha em direção a isso tudo. Ontem até dei uma curtidinha de leve em um momento da programação carnavalesca da cidade, muito bem acompanhada, por sinal! Mas, como bem canta Vinicius “A felicidade do pobre parece a grande ilusão do carnaval. A gente trabalha o ano inteiro. Por um momento de sonho. Pra fazer a fantasia de rei ou de pirata ou jardineira. Pra tudo se acabar na quarta-feira. Tristeza não tem fim. Felicidade sim”...Amanhã é quarta-feira de cinzas! E, como o Brasil para (presente do verbo parar!!) no carnaval, é possível aproveitar o “tempo livre”. Eu, como mostrei no texto abaixo, realizei a mudança do apartamento. Mas hoje, como uma carnavalesca de quinta, além de ler Caio Prado Junior e ter um almoço muito agradável na casa de uma amiga, fiz algo muito bom: fui ao cinema. Há tempos quero comentar sobre a mística que envolve o cinema da UEL, que funciona no shopping Com-tour. O cine da UEL me relaxa... Me traz uma sensação de profunda liberdade. Falei de mística, pois há um clima que se repete... Sempre deixam boas músicas tocando (hoje tocava Chico Buarque). Primeiro acendem todas as luzes coloridas das paredes ao lado. E quando o filme está para iniciar, apagam as duas primeiras fileiras de luzes coloridas, mantendo uma e, enfim, quando o filme inicia, apagam todas as luzes. É como se estivessem abrindo uma cortina (amo o cine Com-tour! Amo a proposta cultural da UEL. Penso que a comunidade londrinense deveria aproveitar mais). Ao ir no cinema hoje ganhei um grande presente: o filme “O Solista”. E é sobre o filme que quero falar aqui. Já havia lido a sinopse no site da UEL... esperava bastante do filme. Esperava um drama que discute a existência. O “sentido”. Que faz chorar e pensar na vida. Mas o filme é muito mais que isso. Mostra o Estados Unidos real. A crise. A pobreza que afeta aquela população. Os desempregados em situação de rua. A criminalização da pobreza. O plano de tolerância zero (tão criticado por estudiosos da violência urbana, que têm uma postura progressista, à exemplo de Loic Wacquant). O caos da saúde pública dos EUA. As marcas deixadas pelo racismo. A violência. As drogas. Aponta como é tênue a linha que divide a sanidade da insanidade mental. Faz pensar sobre medicamentos prescritos para os transtornos mentais (lembrei-me que no ano passado estava a beira da loucura - ou dentro dela- , então recebi de um amigo, coincidentemente, um videozinho do Foucault, falando do papel da psiquiatria. Então disse ao meu amigo: “depois de assistir o vídeo resolvi esperar mais um pouco para procurar o psiquiatra e voltar a tomar bola”. E o amigo respondeu-me: “se você não procurar o psiquiatra hoje, ganhei meu dia”) Sim o papel da psiquiatria e dos remédios que acompanham deve ser repensando. “O Solista”, mostra de forma muito profunda, como “as vozes” atormentam. E, como a música, a criatividade, a arte libertam. Como a amizade verdadeira transforma. Até então parecia que o jornalista, da classe média americana, num tempo de “vacas magras”, pouca criatividade e muita cobrança, encontrou um mote. E foi isso mesmo. O jornalista Steves Lopez (vivido por um ator lindo!!!!), aproveita a história de Nathaniel Anthony Ayers para renovar seu trabalho... Mas a história se transforma em HISTÓRIA. Como também escrevi no post abaixo: o novo traz mudanças. E a relação se transforma. Quando o jornalista anda pelas ruas da “boca do lixo” de Los Angeles, chega na vida real. Quando pisa no “albergue” para sem teto, conhece figuras e histórias marcantes. Conhece a realidade, que até então não tinha visto com profundidade. E quando parece que o jornalista esta ajudando um “louco talento” perdido nas ruas. O “louco talento” quem o ajuda. O jornalista, re-pensa sua vida. O solista, re-acredita na vida. O jornalista reencontra-se no trabalho. O solista reencontra-se com o violão cello. O jornalista quer tirar o solista das ruas. O solista só quer tocar violão cello embaixo de um viaduto. O jornalista tenta resolver seu passado. O solista tenta viver o presente. E assim, as vidas se marcam. Transformam-se. Enquanto Steves Lopez retoma a criatividade que revoluciona, Nathaniel Anthony Ayers – N-A-T-H-A-N-I-E-L A-N-T-H-H-O-N-Y A-Y-E-R-S (quem assistir o filme saberá por que escrevo este nome soletrando-o!!!), volta a tocar violão cello. O filme mostra como a loucura está em todos. Somos loucos, um pouco mais ou um pouco menos, mas somos loucos. Mostra como a loucura não é tão louca como pensamos. E assim, segue uma história real, contada com muita sensibilidade e beleza. Com closes fechados nos rostos, nos olhares, nas lágrimas, nos sorrisos. Lindo filme. Lindo... E viva Ludwig van Beethoven!






http://www.osolista.com.br