sexta-feira, 30 de abril de 2010

... 1o. de Maio com recado de Brecht!




Só para lembrarmos que amanhã, 1o. de Maio, não é dia de festa:

Melhores ou piores,
é a mesma coisa.
A bota que nos pisa
é sempre a mesma bota.
Já compreendereis
o que quero dizer:
não mudar de senhores,
mas não ter nenhum.

Bertolt Brecht



Em outro poema, Brecht fala para "os que vierem depois"...
Leio, me sinto tão impotente... tão inerte... tão descrente... tão cética... tão parada...
É triste! Estou cuidando da minha vida, é só isso! Primeiro de Maio é dia de reflexão sobre minha atuação política... nos ultimos cinco anos, tenho me sentido culpada... Talvez seja mais fácil considerar o poema abaixo como um recado para as próximas gerações, mas sei que este recado é para mim e eu nada faço.



Aos que vierem depois de nós
Bertolt Brecht
(Tradução de Manuel Bandeira)


Realmente, vivemos muito sombrios!
A inocência é loucura. Uma fronte sem rugas
denota insensibilidade. Aquele que ri
ainda não recebeu a terrível notícia
que está para chegar.

Que tempos são estes, em que
é quase um delito
falar de coisas inocentes.
Pois implica silenciar tantos horrores!
Esse que cruza tranqüilamente a rua
não poderá jamais ser encontrado
pelos amigos que precisam de ajuda?

É certo: ganho o meu pão ainda,
Mas acreditai-me: é pura casualidade.
Nada do que faço justifica
que eu possa comer até fartar-me.
Por enquanto as coisas me correm bem
[(se a sorte me abandonar estou perdido).
E dizem-me: "Bebe, come! Alegra-te, pois tens o quê!"

Mas como posso comer e beber,
se ao faminto arrebato o que como,
se o copo de água falta ao sedento?
E todavia continuo comendo e bebendo.

Também gostaria de ser um sábio.
Os livros antigos nos falam da sabedoria:
é quedar-se afastado das lutas do mundo
e, sem temores,
deixar correr o breve tempo. Mas
evitar a violência,
retribuir o mal com o bem,
não satisfazer os desejos, antes esquecê-los
é o que chamam sabedoria.
E eu não posso fazê-lo. Realmente,
vivemos tempos sombrios.


Para as cidades vim em tempos de desordem,
quando reinava a fome.
Misturei-me aos homens em tempos turbulentos
e indignei-me com eles.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

Comi o meu pão em meio às batalhas.
Deitei-me para dormir entre os assassinos.
Do amor me ocupei descuidadamente
e não tive paciência com a Natureza.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

No meu tempo as ruas conduziam aos atoleiros.
A palavra traiu-me ante o verdugo.
Era muito pouco o que eu podia. Mas os governantes
Se sentiam, sem mim, mais seguros, — espero.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

As forças eram escassas. E a meta
achava-se muito distante.
Pude divisá-la claramente,
ainda quando parecia, para mim, inatingível.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

Vós, que surgireis da maré
em que perecemos,
lembrai-vos também,
quando falardes das nossas fraquezas,
lembrai-vos dos tempos sombrios
de que pudestes escapar.

Íamos, com efeito,
mudando mais freqüentemente de país
do que de sapatos,
através das lutas de classes,
desesperados,
quando havia só injustiça e nenhuma indignação.

E, contudo, sabemos
que também o ódio contra a baixeza
endurece a voz. Ah, os que quisemos
preparar terreno para a bondade
não pudemos ser bons.
Vós, porém, quando chegar o momento
em que o homem seja bom para o homem,
lembrai-vos de nós
com indulgência.

sábado, 24 de abril de 2010

sangue mensal...

Mensalmente as mulheres sangram e isso não é pouco... Sangrar todos os meses é sinal de saúde, fertilidade, feminino. Sangrar todos os meses é sinal de modificações. Modificação hormonal, modificação no humor, modificação no modus-operandi. Sangrar todos os meses é lindo, mas é incomodo. Sangrar traz uma certa dor física-emocional (ou psicofísica). O sangue traz algumas cólicas pesadas (o que faz com que a mulher tenha mais resistência diante da dor) O sangue vem acompanhado da tristeza que o antecede (o que faz com que a mulher esteja em vulnerabilidade emocional). Uma angustia que invade a alma, aquela decorrente de algo chamado cientificamente de tensão pré-menstrual.
O sangue é sangue. Perder sangue, é perder um pouco de força, um pouco de energia, um pouco da alma. Mas a natureza determinou que as fêmeas sangrem como sinal de que podem gerar, que podem ser instrumento para a formação de outro ser da mesma espécie (principalmente entre os mamíferos - e o bicho-humano-mulher esta inserido nesta categoria!). Gerar deve ser lindo, deve trazer o significado deste incomodo mensal. Quando sangro, a tristeza me acompanha, mas também sangrar me traz a convicção da vitalidade. Me traz a sensação de que tudo se renova, de continuidade, de dialética. E o meu corpo está inserido em um ciclo. Um ciclo que é incomodo, mas também é mágico. Que este ciclo continue vivo... Que o sangue mensal seja bem vindo!

sexta-feira, 23 de abril de 2010

cão no lugar de gente?




...odeio FRESCURA com cachoro... odeio o fato de cães serem melhor tratados que pessoas... que crianças. Fico revoltada de verdade... Acabo de ver na Ana Maria "Brega", cães que são tratados com Florais e todas as frescuras que um ser humano merece para ter mais qualidade de vida. É muita desumanização do humano e humanização do cão... Para mim, isso é algo intolerável... É claro que a sociabilidade construida no modo de produção capitalista, é uma das grandes responsáveis por isso. O fato do homem ser desumanizado, reificado, já é elemento explicado por Marx/Engels e toda sua tradição teórica, como um problema a ser superado pelos próprios homens. O fato do cão ser humanizado, nunca vi críticas sobre isso, mas vejo como uma maldade feita com os bichos... é rídiculo, como na foto ao lado!
O individualismo está se aprofundando cada dia mais... e a solidão é um fenômeno que cresce, atingindo grandemente a classe média... E, vejo que as pessoas tentam resolver a solidão com os cães, humanizando-os... tratando-os como pessoas... Me perdoem os amantes de cachorros, mas investir em cães como se fosse em gente é vergonhoso! Os cães não são seres humanos. Os cães são cães. Podem ser amigos, lindos, companheiros, defensores... Mas continuam sendo cães. É mais fácil conviver com os cães que com os humanos?.. claro que sim! A convivência com ser humano exige troca... exige entrega... E não temos mais muito paciência para isso. Na maioria das vezes, os cães não nos contrariam... O amor é quase "incondicional"... quais são as condições?: comida e contato. Deu comida, fez carinho: pronto, o cão te ama... As pessoas que tratam os cães como gente, acreditam que os cães são "pessoas melhores", afinal de contas, não reclamam com palavras! Vejo que a relação com os cães acaba sendo instrumental. O cão satisfaz algumas carências, sem reclamar muito... Mas é claro que os cães reclamam... É claro que os cães não são gente. Os cães são animais domésticos...
E na relação entre pessoas? Na relação entre pessoas existe algo cotidiano: o conflito. Nas relações interpessoais, os conflitos devem ser resolvidos com diálogo, com paciência, com persistência... E isso não é fácil... Os conflitos existem, pois a vida é dialética, está em intenso movimento! E este movimento não é linear, é contraditório... Respeito os cães, mas não as pessoas que preferem os cães a gente! Ainda encaro o desafio de manter-me ligada com pessoas... com gente!

PS... quem tem cão e não tenta substituir gente por cão, tem todo meu respeito!

quarta-feira, 21 de abril de 2010

dia do índio: Xuxa X Clara Nunes

Como construir uma educação com base crítica, que fale do Brasil e de sua história, se os educadores não têm a História (com H) correndo em suas veias? Se ainda comemoram o “dia do índio” ao som de Xuxa?

Duas reflexões:

Primeira:
No dia 19 (ou seja, na ultima segunda-feira), estava na UEL e vi algumas crianças, que estudam na escola e educação infantil dentro da universidade, fantasiadas de indiozinho... E eu perguntei para uma delas: hoje vocês cantaram "vamos brincar de índio, eu sou mocinho,e blá, blá, blá"?, e a gurizinha respondeu: “é, nós dançamos essa música”. Isso me trouxe uma angustia, pois quem dá o tom para a comemoração do "dia do índio" em uma escola de educação infantil é a Xuxa... É tudo muito hipócrita. Dói ver que os educadores também foram educados sem o mínimo sentimento de resistência. É triste demais, ver que este relato é a expressão do que esta acontecendo por aí, pelo menos na hegemonia colonialista, depois, capitalista, dos últimos 500 anos.

Segunda:
Lembro que na minha viagem para Equador, vivenciei momentos ímpares e, o ponto ápice, foi uma conversa com um jovem em um ônibus, indo para Otavalo (uma cidade de tradição indígena muito peculiar). O jovem me deu aulas de história, economia, cultura, política. Explicou porque o lago se chama Rojo... Contou como aconteceu a ocupação dos Incas e a dizimação dos índios que já haviam naquela região. Falou com orgulho de seu povo, de sua história. Então eu perguntei: você estuda história, geografia ou outra área? Ele respondeu: sou engenheiro. Isso é uma prova de que a resistência é algo que corre nas veias.

Síntese ao "som" de Clara Nunes:
Educação e resistência deveriam caminhar juntas. E dia do Índio, do Trabalhador, da Mulher, são apenas datas utilizadas para se festejar o que não merece ser festejado. Contrariamente, deveríamos usar essas datas para lembrar historicamente, com força capaz de mover mentes e corações de trabalhadores que são centrais neste debate.

Como cantava Clara Nunes (composição de Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro),

“Ninguém ouviu um soluçar de dor no canto do Brasil. Um lamento triste sempre ecoou. Desde que o índio guerreiro foi pro cativeiro e de lá cantou. Negro entoou um canto de revolta pelos ares, no Quilombo dos Palmares onde se refugiou. Fora a luta dos Inconfidentes pela quebra das correntes, nada adiantou. E de guerra em paz de paz em guerra. Todo o povo dessa terra quando pode cantar, canta de dor. E ecoa noite e dia é ensurdecedor. Ai, mas que agonia. O canto do trabalhador esse canto que devia ser um canto de alegria, soa apenas como um soluçar de dor”

Essa música sim deveria ser dançada e cantada nas escolas!

poema de Mario Quintana que recebi de presente!



“A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê, perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê, já passaram-se 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado.
Se me fosse dado, um dia, outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando, pelo caminho,
a casca dourada e inútil das horas.
Desta forma, eu digo:
Não deixe de fazer algo que gosta,
devido à falta de tempo,
pois a única falta que terá
será desse tempo que, infelizmente,
não voltará mais.”

Mário Quintana

terça-feira, 20 de abril de 2010

dialogo na rodoviária!

...apesar de todo cansaso, gosto de rodoviárias! Hoje trabalhei o dia todo, estou mais quebrada que arroz de terceira, como diz meu pai, e mesmo assim, tive que correr para rodoviária de Londrina e passar mais uma preciosa noite da minha vida, dentro de um onibus... Quando chego na rodoviária observo tantas coisa, no instante que escrevo, passa uma mãe arrantando seu filhinho pelo braço e o o meninho balança o outra braço como se fosse uma onda... Tem uma senhora do meu lado, preocupada com o horário do onibus, fala com o neto, veja lá, olhe aqui, parece que mesmo aqui, ela tem medo de perder o onibus. Hoje não está tão lotada, mesmo sendo vespera de feriado. Feriado em meio de semana não faz brasileiro parar (e ainda dizem que somos vagais...)...Agora vejo um casal, a moça é portadora de necessidades especiais e o namorado ou amigo, a carrega em um carrinho de carregar malas. E ela esta sossegadérrima, parece que procuram alguém. Nas rodoviárias observo as relações afetivas, as lágrimas de despedida, a ansiedade de quem quase não viaja, o cansanço de quem semanalmente se mete dentro de um onibus, como eu. E assim vamos todos seguindo. Para onde? Não sei exatamente... Mas vamos todos seguindo. Depois de um dia intenso de trabalho, vale a pena observar... pelo menos isso!

Agora senta um senhor ao meu lado, negro, de chapéu, óculos de sol, todo cheiroso, um velhinho vaidoso, relógio no pulso. Onde será que ele vai? Que vontade de perguntar! kkknão precisou, ele me abordou... olhou para mim e disse: não é fácil não. E disse que anda por este Brasil observando tudo. E percebeu que viu que eu também estou observando. Me disse que viaja o Brasil o todo. Que em Janeiro fez 86 anos... Me conta que chegou ontem e viu um menino dormindo e pensou "quem cuida dessas crianças nesta cidade" e que "temos que olhar para as crianças deste país". O nome dele é Adão. Tem 7 filhos e 14 netos. Falou que o "orgulho mata o homem e mata a mulher" e que sem deus não somos nada. Ele vende bordado... Começou me evangelizar... kkkk

segunda-feira, 19 de abril de 2010

um pesadelo e a vantade de contar para o Dr. Jung

... ontem, depois de passar horas conversando com um novo amigo no messenger, fui dormir querendo sonhar com borboletas, flores, Woodstock, Bob Marley, Doze Tribos, mar, montanha, vento, Karl Marx, cheiro de café, alfazema, Tim Maia Racional... Mas, ao contrário disso, tive um sonho pesado.Sonho pesado = pesadelo. Na primeira parte do sonho, entrei em conflito com uma colega de trabalho. Comprei uma "briga" de graça... E o preço a ser pago seria bem alto. Havia me arrependido, mas não tinha mais como voltar atrás (nunca há chance de voltar atrás, a única coisa que podemos fazer é caminhar para frente e, reconstruir, reiventar... mas voltar para trás, não dá...) Isso foi pesado, complicado. Na segunda parte do sonho as coisas se desenrolaram de forma mais surreal. Havia animais de todos os tipos, todos fora de suas jaulas. Todos doentes. Quase morrendo. Entrei em um multirão para salvá-los. Aqui não havia pessoa conhecida. Só aqueles desconhecidos que visitam nossos sonhos... Bom... trabalhamos muito, curando os animais. Ursos, leões, onças, gorilas e alguns que não existem, meio mostruosos... E conseguimos nossas meta, pois os animais reviveram. Porém, algo aterrorizante aconteceu, pois os bichos passaram a nos atacar. Tivemos que ocupar as jaulas. E eles ficavam rosnando do lado de fora. Amassando as grades com suas patas fortes. E eu, naquele desepero, próprio dos pesadelos, chorava de medo e, ao mesmo tempo, queria entender... Não me conformava com o fato de ter salvo os animais, para depois eles me perseguirem. Tudo muito tenso, pesado...Acordei. Como é bom acordar em um pesadelo. Acordei querendo entender. Fiquei pensando: o que o Dr. Jung diria se eu fosse sua "paciente"? Quais os arquétipos, os simbolos, os significados deste sonho? Queria muito que o Dr. Jung me explicasse, pois Dr. Freud eu já sei o que diria. Queria sentar frente a frente com Dr. Jung e entender com ele o que a minha mente "materializou" neste sonho. Dr.Jung, só com ele!

sábado, 17 de abril de 2010

blá, blá, blá com o passado e Shakespeare

... esta semana, o Passado (que veste um par de calças) me abordou (devo lembrar que o "Passado" já foi identificado neste blog como "Vampiro"). E o Passado, falou comigo, numa nova tentativa de resgatar a sua história e, como sempre, me culpar por ela. Para não ser diferente, eu, conversei com o passado e tentei culpá-lo por sua história. Discutir o passado com o Passado, chega ser uma ação burra... Mas, pela milionésima vez disse para o Passado "eu tentei, eu fiz de tudo, blá, blá, blá, blá, blá, blá" e o Passado disse "blá, blá, blá, blá, blá, blá"... E como sempre o diálogo com o Passado mexeu. As vezes penso que o Passado quer voltar a ser presente, ou pelo menos, ter a garantia de que pode voltar a ser presente quando bem quiser.. mas e o futuro? (não toque no assunto de futuro com o Passado!). E eu, em minha loucura, as vezes também desejo que o Passado volte a ser presente, todavia lembro de como foi o Passado e penso no futuro. O Passado já ensinou o que é, como é, o que faz. E um passado ruim não vale a pena reviver. Tenho a convicção de que a conversa com o Passado nunca me faz bem, afinal de contas, o Passado é passado...passou. E com o "blá, blá, blá" do Passado, fiquei me sentindo culpada, como sempre. E o meu "blá, blá, blá" não o sensibilizou o Passado, como sempre. Então, a conversa com o Passado pesou. Depois disso segui para a rota presente e viajei para São Paulo, chegando lá, ao ler o texto para aula, me deparei com um pensamento fenomenal. Um pensamento que deu sentido a todo o "blá, blá, blá". Um pensamento que sintetizou toda a dor que vivi no/com o (p)Passado. Derrepente, na obra "O Capital" de Karl Marx, encontro uma nota de rodapé: "O CURSO DO VERDADEIRO AMOR NUNCA É SUAVE" (Shakespeare)... Fiquei repetindo para mim mesma: "o curso do verdadeiro amor nunca é suave"; "o curso do verdadeiro amor nunca é suave"; "o curso do verdadeiro amor nunca é suave"; intercalando com as lembranças do "blá, blá, blá" que tive com o Passado.
"o curso do verdadeiro amor nunca é suave";
"blá, blá, blá"
"o curso do verdadeiro amor nunca é suave";
"blá, blá, blá"...
E assim segui o dia...
Então, saquei que no "blá, blá, blá" com o Passado, ninguém tem a razão que queria ter, nem eu, nem o Passado, pois, "o curso do verdadeiro amor nunca é suave" e Shakespeare tem razão, ao falar da emoção. E ainda bem que a vida é histórica e dialética... sem reviver passado, sim considerar história!

sexta-feira, 9 de abril de 2010

texto divulgado pelos moradores de favelas de Niterói

Nós, moradores de favelas de Niterói, fomos duramente atingidos por uma tragédia de grandes dimensões. Essa tragédia, mais do que resultado das chuvas, foi causada pela omissão do poder público. A prefeitura de Niterói investe em obras milionárias para enfeitar a cidade e não faz as obras de infra-estrutura que poderiam salvar vidas. As comunidades de Niterói estão abandonadas à sua própria sorte.

Enquanto isso, com a conivência do poder público, a especulação imobiliária depreda o meio ambiente, ocupa o solo urbano de modo desordenado e submete toda a população à sua ganância.

Quando ainda escavamos a terra com nossas mãos para retirarmos os corpos das dezenas de mortos nos deslizamentos, ouvimos o prefeito Jorge Roberto Silveira, o secretário de obras Mocarzel, o governador Sérgio Cabral e o presidente Lula colocarem em nossas costas a culpa pela tragédia. Estamos indignados, revoltados e recusamos essa culpa. Nossa dor está sendo usada para legitimar os projetos de remoção e retirar o nosso direito à cidade.

Nós, favelados, somos parte da cidade e a construímos com nossas mãos e nosso suor. Não podemos ser culpados por sofrermos com décadas de abandono, por sermos vítimas da brutal desigualdade social brasileira e de um modelo urbano excludente. Os que nos culpam, justamente no momento em que mais precisamos de apoio e solidariedade, jamais souberam o que é perder sua casa, seus pertences, sua vida e sua história em situações como a que vivemos agora.

Nossa indignação é ainda maior que nossa tristeza e, em respeito à nossa dor, exigimos o retratamento imediato das autoridades públicas.

Ao invés de declarações que culpam a chuva ou os mortos, queremos o compromisso com políticas públicas que nos respeitem como cidadãos e seres humanos.



Comitê de Mobilização e Solidariedade das Favelas de Niterói

Associação de Moradores do Morro do Estado

Associação de Moradores do Morro da Chácara

SINDSPREV/RJ

SEPE - Niterói

SINTUFF

DCE-UFF

Mandato do vereador Renatinho (PSOL)

Mandato do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL)

Associação dos Profissionais e Amigos do Funk (APAFUNK)

Movimento Direito pra Quem

Coletivo do Curso de Formação de Agentes Culturais Populares

quinta-feira, 8 de abril de 2010

tragédia no Rio

...que tragédia no Estado do Rio de Janeiro. Quanta tragédia, este ano.
A natureza está gritando, inclusive o bixo homem, que faz parte dela.

muito triste, imensamente triste.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

... farei valer a pena!

... "tudo é uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo", assim canta Walter Franco... Gosto disso... Desejo isso... Mas na real, não é fácil não... Na real, a vida fica pesada... Na real, nada vem de bandeja... Essa coisa de fazer doutorado longe de casa é complicado. Viajar, cansar... dói joelho, dói o corpo. Ganha-se olheiras, que tem me incomodado muito por sinal. Noites sem dormir. Enfim, a tarefa não é tranquila. Batalhar... Hoje cheguei aqui em São Paulo e estava só o pó... Cheguei e aquela garoa tristonha, aquele trem lotado. É como se chegasse em uma selva cinza. Uma selva movimentada. Então pensei: até que ponto vale a pena? Mas, ao chegar na USP, tomando um cafezinho pude retomar o eixo e deize4r para mim mesma: vale a pena sim! Como nada vem de bandeja, vale a pena. Como não sou "leitinho tipo A", o desafio vale a pena. Ficar parada é o que não dá... E logo, fui para aula e valeu a pena... Vale a pena... Mas, diante disso tudo, o que mais espero é que realmente vala a pena para algo mais... não só para aumentar meu salário... Quero que minha tese gere algum processo. Quero transformar uma pesquisa acadêmica em uma discussão que surta algum efeito. Eis o maior desafio de todos... Isso sim é desafio. Por isso: "tudo é uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo" (W.F)... Farei valer a pena!

o onibus chegou, ufa!

domingo, 4 de abril de 2010

julgamento do casal Nardoni e vitória do BBB Dourado

Não tenho muita leitura e teorização para analisar fenômenos inseridos no contexto da subjetividade, todavia, a subjetividade esta eminentemente viculada a objetividade, por isso, com o pouco que estudei sobre ideologia na perspectiva do materialismo histórico e dialético, posso arriscar algumas palavras no que se refere a questão da mídia e da violência. Na verdade, tenho estudado um pouco sobre isso, em especial, sobre a influência da mídia na construção do pânico diante da violência urbana. As notícias valorizadas pela Rede Globo (que é a emissora que mais maqueia suas matérias com um ar de seriedade) sempre chamam a minha atenção e nas duas ultimas semanas dois pontos de pauta da emissora, aparentemente independentes, para mim fizeram sentido juntos. Os pontos: julgamento do casal Nardoni e a campanha pelo BBB Dourado. Já era certo que julgamento do casal Nardoni chamaria a atenção, afinal de contas, uma criança foi jogada pela janela. E não foi qualquer criança. A criança era bonita, tinha quarto rosa, roupa da moda infantil e duas famílias de classe média para lhe dar suporte. Esta criança era o ícone da criança feliz. Sim, a menina com quarto rosa! E porque ceifariam a vida de uma criança tão feliz? Acabariam com um futuro tão promissor? Porque o pai e a madrasta a jogariam pela janela? Comoção na certa. Lembremos que as crianças que não têm quarto rosa, nem famílias de classe média para respaldá-las e sofrem violência todos os dias, não ganham tanta visibilidade. Por quê? Talvez porque as crianças já vitimadas pela violência estrutural passam despercebidas diante dos olhos de uma grande maioria que olha para elas e se vê (Vejam: eu escrevi talvez. Mais um alerta: no início do texto disse que não tenho teorização necessária para falar de subjetividade, mesmo assim, quis esboçar algumas idéias aqui no blog). Outra questão importante é o pressuposto de que pais pobres, "sem cultura" naturalmente violentam suas crianças e a situação Isabella destoa este lugar comum. Destoa pois a menina caiu pela janela, como esconder isso? Sabemos bem que a violência doméstica é fenômeno que acontece entre quatro paredes. Quatro paredes de favelas e de condomínios fechados. Há uma diferença essencial: a forma que o "respeito" a vida privada é conduzido. Só isso. O que me faz entender desta maneira é a percepção diante do discurso ideológico dominante. O discurso que naturaliza a desigualdade e que culbalibiza os pobres pela pobreza. Discurso difundido pelo pensamento dominante, que é aderido por todas as classes, inclusive, pelas classes populares (aquelas culpabilizadas pela vida dura que vivem!). A vida saudável de uma criança de classe média torna-se objeto de desejo de todos aqueles não tiveram uma infância a base de "leitinho tipo A", então a identidade se materializa de forma diferente. Ou melhor dizendo, a (des)identidade se mostra como um olhar por uma janela, como o assistir de um filme, de uma novela. Vou caminhar para onde realmente interessa: a comoção popular. O julgamento acontecendo com toda pompa que o "Estado Democrático de Direito" permite e, do lado de fora, pessoas chorando, vestidas de verde e amarelo clamando por justiça. Foi assustador ver a violência nos olhos das pessoas que estavam clamando por justiça (aqui cabe uma informação: o Brasil é um dos campeões no ranking de linchamentos). E o que o BBB Dourado tem haver com essa história? Nada... Nada... Mas eu vi um ponto em comum. O moço, que é tosco ao extremo, grosseiro, machista, homofóbico, enfim, um cara agressivo (para não dizer violento), ganhou o premio de um milhão de reais. Então fiquei pensando que por mais que haja manipulação da emissora, do Pedro Bial e do diabo a quatro (para não escrever palavrão), o povo vota neste troço. Então tentei compreender alguns dos argumentos da vitória daquele cara tosco. Vi na Ana Maria “Brega” alguns artistas de quinta falarem do porquê da vitória do Dourado (a mocinha bonita Débora Secco falou que votou 5 mil vezes nele). Também observei pessoas "comuns" defenderam a vitória do tosco, opa, do moço. Eis o argumento: ele mostrou quem é. Mostrou que os brutos também amam. E este argumento sempre teve na rabeira a desqualificação do outro moço. Do moço que foi “bonzinho” o programa todo. Que foi amigo. Que não comprou encrenca. Que não foi agressivo. Percebi que este moço foi visto com maus olhos por ser considerado “sonso”. E, entre um moço bonzinho considerado sonso e um moço agressivo considerado sincero. O agressivo ganhou disparado. Então fiquei pensando: porque será que o povo gosta de pessoas agressivas? Porque será que dias atrás as pessoas estavam clamando por justiça contra a violência que tirou a vida da menina do quarto rosa e na outra semana decide que um moço agressivo (para não dizer violento) ganhe o premio de um milhão de reais? Quem votou em Dourado foi quem clamou por justiça no caso Isabella? Sim... claro que sim... A Rede Globo, pelo menos sim. E, é claro, a manipulação ideológica, que só existe vinculada com a concreticidade que uma grande força nisso. O trabalhador tem que ser agressivo para sobreviver diante da exploração do trabalho e da ausência dele. Identidade com a personalidade agressiva. As crianças são personagens "indefesos", "vulneráveis", então há a comoção diante da violência contra este segmento social, em especial daquela criança que tinha uma vida "boa" pela frente. Identidade com a inocência de Isabella.
Então eu me pergunto: que movimento é esse? Sim, este é o movimento que a sociedade contemporânea se encontra. É a violência e seu lugar instável, todavia, presente. Sempre presente. Se a violência é hoje criticada por mim, amanhã ela pode ser defendida. Depois de amanhã posso agir com violência, ou sofrer, por conta dela.
A violência é fenômeno histórico, complexo e multifacetado. A violência não é privilégio do modo de produção capitalista. Mas, é na sociabilidade capitalista que vivemos, por isso, não podemos compreender a violência apenas a partir da ótica cultural e ideológica. A violência é fenômeno inserido nas relações materiais. E em uma ordem que se organiza a partir da desordem da essência humana; em uma ordem que desumaniza; em uma ordem que utilizada cotidianamente da instrumentalidade da violência (como ensina Hannah Arendt) para se manter; É certo que a confusão se estabelece e é normal clamar por justiça contra uma ação violenta e na mesma semana torcer por uma personalidade agressiva. Eis mais uma contradição!
Por isso, só é possível fechar este texto com Bertold Brecht

“Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo. E examinai, sobretudo, o que parece habitual. Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural nada deve ser impossível de mudar”.



PS: Em tempo, coloco que não estou julgando o BBB, até porque não tenho como perder meu precioso tempo assistindo um reality show... O pouco que vi do moço não gostei. É só isso.