quarta-feira, 21 de abril de 2010

dia do índio: Xuxa X Clara Nunes

Como construir uma educação com base crítica, que fale do Brasil e de sua história, se os educadores não têm a História (com H) correndo em suas veias? Se ainda comemoram o “dia do índio” ao som de Xuxa?

Duas reflexões:

Primeira:
No dia 19 (ou seja, na ultima segunda-feira), estava na UEL e vi algumas crianças, que estudam na escola e educação infantil dentro da universidade, fantasiadas de indiozinho... E eu perguntei para uma delas: hoje vocês cantaram "vamos brincar de índio, eu sou mocinho,e blá, blá, blá"?, e a gurizinha respondeu: “é, nós dançamos essa música”. Isso me trouxe uma angustia, pois quem dá o tom para a comemoração do "dia do índio" em uma escola de educação infantil é a Xuxa... É tudo muito hipócrita. Dói ver que os educadores também foram educados sem o mínimo sentimento de resistência. É triste demais, ver que este relato é a expressão do que esta acontecendo por aí, pelo menos na hegemonia colonialista, depois, capitalista, dos últimos 500 anos.

Segunda:
Lembro que na minha viagem para Equador, vivenciei momentos ímpares e, o ponto ápice, foi uma conversa com um jovem em um ônibus, indo para Otavalo (uma cidade de tradição indígena muito peculiar). O jovem me deu aulas de história, economia, cultura, política. Explicou porque o lago se chama Rojo... Contou como aconteceu a ocupação dos Incas e a dizimação dos índios que já haviam naquela região. Falou com orgulho de seu povo, de sua história. Então eu perguntei: você estuda história, geografia ou outra área? Ele respondeu: sou engenheiro. Isso é uma prova de que a resistência é algo que corre nas veias.

Síntese ao "som" de Clara Nunes:
Educação e resistência deveriam caminhar juntas. E dia do Índio, do Trabalhador, da Mulher, são apenas datas utilizadas para se festejar o que não merece ser festejado. Contrariamente, deveríamos usar essas datas para lembrar historicamente, com força capaz de mover mentes e corações de trabalhadores que são centrais neste debate.

Como cantava Clara Nunes (composição de Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro),

“Ninguém ouviu um soluçar de dor no canto do Brasil. Um lamento triste sempre ecoou. Desde que o índio guerreiro foi pro cativeiro e de lá cantou. Negro entoou um canto de revolta pelos ares, no Quilombo dos Palmares onde se refugiou. Fora a luta dos Inconfidentes pela quebra das correntes, nada adiantou. E de guerra em paz de paz em guerra. Todo o povo dessa terra quando pode cantar, canta de dor. E ecoa noite e dia é ensurdecedor. Ai, mas que agonia. O canto do trabalhador esse canto que devia ser um canto de alegria, soa apenas como um soluçar de dor”

Essa música sim deveria ser dançada e cantada nas escolas!

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